OPINIÃO

No compasso da vida, nada é limitado quando a percepção ultrapassa o espetáculo exterior

.Aprecio os horizontes que circulam ao redor; uns, maravilhosamente esplendorosos; outros, ousados nos paradoxos que os invadem. Há sempre um acúmulo de cenários; aí habita o esplendor de cada dia.

FÁTIMA QUINTAS
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FÁTIMA QUINTAS
Publicado em 23/02/2022 às 0:00 | Atualizado em 23/02/2022 às 7:37
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Luz do Sol - FOTO: Pixabay
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A luz do sol me encandeia e me traz a sensação de que os excessos vão além da capacidade de apreender a atmosfera. Estou inquieta diante das percepções externas. Absorvo a manhã, a tarde, a noite, em sua dimensão de total independência — o externo e o interno se cruzam na força da duplicidade. Entrego-me a um olhar de intensa reclusão, sou apenas uma tímida diante de um entorno desconhecido. A claridade me absorve pela sua espontânea beleza. Não retenho o poder de aferir para além do que os olhos percebem, trago a inquietação interior que invade o compasso da vida.

Há sempre uma perplexidade progressiva, o cotidiano é feito de cenas desconhecidas. As visões aclaram os espantos, tanto assim que me recolho em profunda fraqueza. Jamais me atrevo a dissecar o espetáculo que se apresenta diante do que vejo e do que não vejo. A criança que trelava pelo jardim de outrora é a mesma que cresceu envolvida em brumas. Que direi em face do que não sei?

Melhor apreciar o real, assim despertarei diante do universo. Todos os detalhes me tocam, deixo-me afogar por um palco em permanente crescimento. Quantas vezes acredito que a interrogação é o símbolo da própria totalidade? O mundo caminha independente das escolhas. Vou e volto em uma mesma dimensão. Aprecio os horizontes que circulam ao redor; uns, maravilhosamente esplendorosos; outros, ousados nos paradoxos que os invadem. Há sempre um acúmulo de cenários; aí habita o esplendor de cada dia. Fecho os olhos na pulsão do eu; respiro fundo e, de repente, descubro as mais variadas facções. Nada é limitado quando a percepção ultrapassa o espetáculo exterior. E a alma reacende a capacidade de visualizar o universo por inteiro. Ledo engano.

Quantas mutações! Hoje, de um jeito; amanhã, de outro. Pouco importa. A multiplicidade de visões leva-me à explosão do âmago. Não recuo, avanço porque necessito ir além do que presumo. A intenção de criar e recriar faz-me inteira. O importante é resguardar os sigilos em grutas ocultas. Sou uma e sou outra; assim, a multiplicidade transcende para além do que pressinto. Estarei sempre no fluxo do inimaginável? Não sei. Acato a multiplicidade das perspectivas que me cercam. E os enigmas afloram em completude.

Fátima Quintas, Academia Pernambucana de Letras

 

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