OPINIÃO

Nossos juízes, especialmente ministros do STF, consideram estar acima de qualquer suspeita

Está cada vez mais difícil ter esperanças, no Brasil.

Imagem do autor
Cadastrado por

José Paulo Cavalcanti Filho

Publicado em 22/04/2022 às 7:21 | Atualizado em 22/04/2022 às 7:25
Notícia
X

O cidadão tem direito de criticar seu Poder Judiciário? Aqui, a resposta seria “não”. Com muitos, hoje, processados ou na prisão em razão do que disseram. Por ser a crítica hoje, no Brasil, entendida como um “ato antidemocrático”. É que todos os nossos juízes, especialmente ministros do Supremo, consideram estar acima de qualquer suspeita. Mas estarão mesmo?, eis a questão.

Caso interessante acaba de ocorrer na terrinha. Em 2013, os juízes conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça (assim são nomeados os ministros do Tribunal Constitucional, equivalente a nosso Supremo), decisão de Artur Rodrigues da Costa e Armênio Sottomayor, condenaram o jornalista Emídio Rangel a pagar 25 mil euros à Associação Sindical dos Juízes Portugueses. E outros 25 mil ao Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. No total, mais de 300 mil reais.

O caso começou, em 2010, quando Emídio, na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República (a Câmara dos Deputados de lá, em Portugal não há senadores), fez uma declaração prévia: As “duas centrais operam a gestão de informação processual através de promiscuidade com os jornalistas que obtém documentos de processos para publicar. Trocam esses documentos em cafés, às escondidas”. E completou: “De onde sai a matéria que está em segredo de justiça?” Tratava-se de estabelecer limites à Liberdade de Expressão.

As associações de magistrados bateram à porta de sua própria casa. E os juízes conselheiros ao julgar o caso, era mesmo de esperar, entenderam que o jornalista “ofendeu gravemente imagem, credibilidade, prestígio, confiança e bom nome” de todos os juízes. E deveria ser severamente punido. Condenado por “abuso da Liberdade de Imprensa”, o jornalista morreu no ano seguinte. Mas, antes, recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. E a decisão dessa Corte acaba de ser publicada.

Com sua sentença considerando que “os tribunais portugueses só se tinham preocupado com direitos/interesses” das associações sindicais. Sem “ponderar devidamente a importância da Liberdade de Expressão num debate de tanta relevância”. Fim do caso. Emídio, onde estiver, deve estar feliz. E suas filhas mais ainda; que irão receber, do governo português, 51 mil euros. Pena que não possamos, aqui, recorrer a um tribunal como esse. Está cada vez mais difícil ter esperanças, no Brasil.

 

José Paulo Cavalcanti Filho, advogado

 

Tags

Autor