OPINIÃO

Fake news existem por que tem quem as dissemine, não só quem as produza

Teorias da conspiração existem porque sempre há os incautos para nelas acreditar; advogados sofrem hostilidades porque alguém, em algum ponto, resolveu que determinados réus não merecem defesa.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
Cadastrado por
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
Publicado em 26/04/2022 às 0:00 | Atualizado em 26/04/2022 às 5:59
Internet
Vida moderna já normalizou fake news, depois que virou arma de discurso político - FOTO: Internet
Leitura:

Quando em uma sociedade de plenitude de informação como a nossa, em que os fatos estão na palma da mão nos smartphones, é desalentador ver gente com diploma de curso superior a defender que os fins justificam os meios e que tudo é consentido, desde as pequenas transgressões, se o propósito é patriótico.

É tempo de procurar voltar ao básico, e, ao fazê-lo, compreender, talvez a depender do caso, reaprender, as reais lições que a história propicia.

Fake news existem por que tem quem as dissemine, não só quem as produza; ignorância sobre a legitimidade de decisões judiciais existe por que há os juristas de WhatsApp a palpitar de boca cheia sem razão e os que, tendo estofo, desembestam a criticar vereditos por que não conseguem discernir a análise técnica da ideologia política; teorias da conspiração existem porque sempre há os incautos para nelas acreditar; advogados sofrem hostilidades porque alguém, em algum ponto, resolveu que determinados réus não merecem defesa.

Se voltamos ao decreto do Presidente da República que concedeu a graça constitucional ao aliado político que defendeu a surra em Ministros do STF e novo AI-5 contra a Corte, e constatarmos que existe quem normaliza isso, pressupondo que a discricionariedade é sinônimo de arbitrariedade, concluímos facilmente o quanto estamos perdidos. Ainda que o direito não seja ciência da exatidão, assim como a matemática o é, isso não significa que se possa propor balizamentos longe de premissas historicamente aceitas no mundo civilizado. Uma das quais a de que o chefe de um Poder não é o revisor plenipotenciário das decisões de outro. Não na democracia.

Algo de muito errado não está certo no Brasil de hoje. A garantia da liberdade de expressão convolou-se na senha para explosões de verborragia como atitudes legítimas. Imunidade parlamentar se tornou garantia inexpugnável, quase divinal. É surrealismo como nem Dalí jamais concebeu.

Encerro acompanhado de Alexis de Tocqueville: "Nada é tão maravilhoso que a arte de ser livre, mas nada é mais difícil de aprender a usar do que a liberdade". Até a próxima.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

 

Comentários

Últimas notícias