Como escolher em quem votar?

No "mercado eleitoral", a relação seria a seguinte: quanto menos informação tiver o eleitor sobre as opções disponíveis, maior a chance de ele optar por alguém desqualificado para aquela função - ou ser induzido ao erro.

JULIANO DOMINGUES
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JULIANO DOMINGUES
Publicado em 28/08/2022 às 4:00
ROBERTO JAYME/TSE
Urna eletrônica - FOTO: ROBERTO JAYME/TSE
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Fazer escolhas pode até parecer algo simples, mas, acredite, não é. No período eleitoral, então, nem se fala. A boa notícia é que a interação entre áreas do conhecimento como ciência política, economia comportamental e ciências da computação tem oferecido ferramentas para deixar o eleitor mais bem informado.

O estudo das escolhas humanas envolve uma série de aspectos quase sempre bem complicados de se identificar e medir. Um ponto, porém, costuma desempenhar papel fundamental no processo de tomada de decisão e nas suas consequências: informação assimétrica. Em tudo na vida, há sempre pessoas mais informadas do que outras e isso costuma influenciar na maneira como a gente interpreta o mundo e se comporta.

O assunto aqui é eleições, mas imagine agora uma loja de automóveis usados em que um vendedor possui mais informações do que os clientes sobre os carros à venda, de modo que, provavelmente, ele irá ocultar características adversas e ressaltar as qualidades dos veículos disponíveis. Quanto menos informado estiver o comprador, maior o risco de ele levar para casa um "abacaxi" - ou fazer uma "seleção adversa", para usar um jargão dessa área de estudos.

No "mercado eleitoral", a relação seria a seguinte: quanto menos informação tiver o eleitor sobre as opções disponíveis, maior a chance de ele optar por alguém desqualificado para aquela função - ou ser induzido ao erro. E quanto mais complicado for o acesso a informações sobre os candidatos e candidatas, maior a chance de assimetria informacional. A boa notícia é que o chamado "custo informacional" tem caído bastante nos últimos anos.

Um bom exemplo é a plataforma reeLegis (https://reelegis.netlify.app/), desenvolvida pelos doutorandos Renata Cavalcanti e Bhreno Vieira no Laboratório de Ciência Política Computacional e Experimental (@cpcex_lab) do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (DCP/UFPE). A ferramenta usa aprendizagem computacional para comparar a atuação dos parlamentares que buscam se reeleger e, com isso, oferece informação ao eleitor que queira evitar uma "seleção adversa".

Um eleitorado desinformado pode causar um baita estrago coletivo. A redução de déficit informacional em um "mercado eleitoral" tende a se refletir em escolhas programáticas, com desdobramentos em termos de políticas públicas. Quando isso ocorre, a democracia se fortalece.

Juliano Domingues, jornalista e cientista político, é professor da Unicap.

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