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Os desafios da educação de Pernambuco

O retrocesso escolar provocado pela covid-19 fica cada vez mais nítido à medida que as avaliações diagnósticas avançam. As crianças menores foram as mais afetadas, especialmente as que se encontram no processo de alfabetização

MOZART NEVES RAMOS
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MOZART NEVES RAMOS
Publicado em 29/08/2022 às 5:00
Ascom Educação PE
Rede estadual de Pernambuco tem cerca de 35 mil professores. Quem atuou entre 1997 e 2006 vai receber abono pago com dinheiro do precatório do Fundef - FOTO: Ascom Educação PE
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Não vou aqui fazer uma análise dos avanços da educação em nosso estado nas duas últimas décadas, mas dos desafios postos aos próximos quatro anos. Não apenas em Pernambuco, mas em todo o país, o maior desafio vai ser a recuperação das aprendizagens escolares. O retrocesso escolar provocado pela covid-19 fica cada vez mais nítido à medida que as avaliações diagnósticas avançam. As crianças menores foram as mais afetadas, especialmente as que se encontram no processo de alfabetização. Cuidar da alfabetização dessas crianças é fundamental, e a melhor bússola para isso é adotar, de maneira correta, o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) do estado do Ceará.

Se eu tivesse que definir duas prioridades para os próximos anos, em termos de etapa e modalidade educacional, não teria dúvida em apontar um forte trabalho para os anos finais do Ensino Fundamental, inspirado no modelo de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral (EMTI), que tornou o estado de Pernambuco conhecido em todo o Brasil, e a expansão de vagas no ensino técnico, olhando para uma oferta que atendesse à demanda regional.

Os ganhos de aprendizagens nos anos iniciais do Ensino Fundamental que o país vem conseguindo ao longo das duas últimas décadas não são verificados nos anos finais. Nem mesmo o estado do Ceará, que tem excelentes resultados nos anos iniciais, consegue manter o mesmo patamar de excelência nos anos finais. A situação de Pernambuco, que ainda tem questões importantes a resolver nos anos iniciais, é mais desafiadora, por não dispor até o momento de um programa de alfabetização robusto. Para ter uma ideia, de cada cem alunos da rede pública de Pernambuco que terminaram em 2019 o 5 ano do Ensino Fundamental, apenas 35 aprenderam o que seria esperado em matemática; e ao final do 9 ano esse percentual desaba para 16. No Ceará, esses números são, respectivamente, 53 e 25, como se pode ver no portal QEdu – qedu.org.br.

Já no caso da segunda prioridade, a expansão do ensino técnico atrelada à demanda regional, atendendo a uma meta que promova a empregabilidade e o desenvolvimento profissional do jovem pernambucano, é fundamental para o desenvolvimento social e econômico do estado. No Brasil, de cada 100 jovens que concluem o Ensino Médio, apenas 22 vão para o Ensino Superior. Já disse, nesta mesma coluna, que é preciso ter uma política para esses 78 jovens, de maneira que o Ensino Médio não represente o teto no seu projeto de vida. Ter uma política de pós-médio é essencial para que o estado não fique entre os mais críticos do país no percentual de jovens na categoria dos “nem-nem”, que nem estudam e nem trabalham.
Naturalmente, cuidar da qualidade da formação de nossos professores e da profissionalização da gestão escolar são pontos de partida (e não de chegada!) para que tudo isso aconteça. Sem bons professores, bem formados e valorizados, o estado de Pernambuco não avançará.

Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

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