eleições 2022

Nas eleições, candidatos valem mais por aparência que por essência

O show midiático dos candidatos nas eleições não chega a ser um baile de máscara, um festival de mentiras

GUSTAVO KRAUSE
Cadastrado por
GUSTAVO KRAUSE
Publicado em 03/09/2022 às 17:30
AGÊNCIA BRASIL
Candidatos adequam discurso na propaganda das eleições - FOTO: AGÊNCIA BRASIL
Leitura:

Em política, o que parece é mesmo não sendo e as versões superam os fatos. Na disputa eleitoral, os candidatos são treinados, maquiados, para ajustar o discurso político às expectativas do eleitorado. Vale tudo na batalha de percepção. É preciso cautela: o brilho pode não ser ouro 18.

O show midiático não chega a ser um baile de máscara, um festival de mentiras, mas é um espaço onde a aparência vale mais do que a essência dos competidores.

No entanto, não custa alinhar conceitos, princípios e, até mesmo, virtuosos conselhos sobre a conquista e a manutenção do poder.

Unir na mesma cabeça sabedoria e poder é o ideal platônico. O afamado, incompreendido e difamado, Maquiavel advertia : “O Príncipe deve aconselhar-se, mas quando ele próprio e não outrem, o julgue conveniente [...] Daí se conclui que bons conselhos nascem da sabedoria do Príncipe, e não que a sabedoria nasça dos bons conselhos”.

No Testamento Político, o notável iluminista Maurício de Nassau (1604-1679) nos legou um atualíssimo preceito: “Devem Vossas Senhorias abster-se de lançar novos impostos, pois tributos geram indisposições no povo”.

O Cardeal Mazzarino (1602-1661), Primeiro-Ministro da França, sucessor do Cardeal Richelieu, em 1643, escreveu no Breviário dos Políticos 15 axiomas, entre eles, “O centro vale mais que os extremos” e cinco regras: “1. Simula. 2. Dissimula. 3. Não confies em ninguém. 4. Fala bem de todo mundo. 5. Prevê antes de agir”.

Apesar do tempo histórico, as reflexões permanecem válidas. Neste sentido nada mais justo do que mencionar trechos atualíssimos das duas cartas do estadista e Imperador Pedro II para a filha Isabel, regente, de março de 1876 a setembro de 1877, por conta da viagem aos EUA, Canadá e Europa.

Eis os “conselhos”: “Sem educação generalizada nunca haverá boas eleições [...] Escuso observar que as estradas são o mais importante melhoramento material [...] Veja se as obras existentes não param, ainda que não possam ir todas depressa, conforme permitam os recursos do Tesouro [...] A magistratura vem provocando bastante queixas. Muito escrúpulo na primeira escolha [...] Todos os negócios importantes não devem ser resolvidos, sem serem primeiro examinados, em conferência dos ministros, e depois em despacho com o imperador [...] Reprovo a despesa que se faça por conta do ministério com a imprensa [...] Os ataques ao imperador não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário”.

No Brasil, a eleição caminha entre um presente angustiante e um “museu de grandes novidades”.

Gustavo Krause, ex-governador

Comentários

Últimas notícias