Como a eleição de 2022 ficará na lembrança do eleitor brasileiro? Toda campanha, em seus estágios iniciais, gera expectativas e aspirações, as primeiras majoritariamente vindas da população e as segundas pelos postulantes e seus grupos políticos.
As projeções partem de todos os lados: quais as bancadas vão ser ampliadas? Quais diminuirão? Quais grupos vão se expandir? Quais vão reduzir seus espaços de atuação? Mas, sobretudo, com a máxima antecedência possível, as pessoas querem saber quem será o grande vencedor dessa batalha.
Sim, as eleições são grandes batalhas. A questão é sabermos a favor de quem e contra quem. A resposta deveria ser óbvia: o vencedor deve ser aquele cujas ideias e propostas são as mais pertinentes para resolver as questões prioritárias da sociedade.
Seria o mais capacitado, com suas habilidades técnicas e pessoais, para liderar, conduzir, arrumar o que está fora do lugar. A tarefa é complexa, mas é para isso que serve a política, em seu sentido mais amplo. É por isso que a campanha eleitoral pode ser vista como um processo de oferta de ideias e de convencimento, persuasão.
E quando o que está em jogo é a capacidade de desconstrução do outro, mais do que de construção de uma plataforma de governo? Muitos alegam que a população está farta de promessas que nunca se cumprem, embasadas em agendas partidárias difusas, capengas, que não passam de um grande “faz de conta”.
Mas o que temos feito, nos últimos tempos, é jogar a consistência dos debates políticos para a frente para discutir o que está na superfície.
Assim, as campanhas viram uma grande narrativa acusatória e rebatedora de notícias falsas, que se propagam sem qualquer pudor. Ninguém assume o ódio que destila, para mostrar que, na verdade, é vítima de um adversário feroz. Isso pode dar um sabor especial à vitória, pois seria o triunfo de bem contra o mal.
Todavia, nem de longe conseguimos enxergar o que pode vir de um governo e de um legislativo que se elegem sem propor, sem minimamente traçar caminhos. A ânsia pela superioridade cega a coletividade para o que precisa ser feito.
As políticas públicas nunca estiveram tão desestruturadas. Nascem de agendas confusas, são formuladas sem os critérios técnicos balizadores, são executadas sem os devidos controles e findam sem mostrar os resultados. Mas como poderia ser diferente, se votamos por critérios que não julgam a capacidade propositiva, legislativa e executiva de quem quer que seja?
Falava-se em terceira via, em um contexto cujos temas centrais seriam a economia e o combate à fome e à miséria. A campanha 2022 está na reta final sem que nada disso seja o grande eixo norteador.
De novo, temos um enredo que vai da fé religiosa às discussões estapafúrdias sobre como provar o caráter do adversário, mas nada, nada de prioridades orçamentárias que possam dar esperança de que poderemos ter um governo para chamar de nosso.
Priscila Lapa, cientista política.
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