Os dados mostram que não é fácil virar uma eleição, mas Pernambuco parece gostar de contrariar essa regra. Isso porque a chance de virada é maior quando a soma dos votos das duas candidaturas que passaram ao 2º turno é relativamente pequena, assim como a distância entre elas. Esse é justamente o caso da disputa entre Marília e Raquel. E, o mais provável, é que Raquel ganhe de virada.
Somados, os votos das duas chegam a 44,55% e elas estiveram separadas por apenas 3,39% no 1º turno. A possibilidade de virada é reforçada, sobretudo, por um aspecto, digamos, matemático-político-contextual. Os eleitores de Anderson Ferreira (PL, 890 mil votos) e de Miguel Coelho (União Brasil, 885 mil votos) devem migrar majoritariamente para Raquel em função, sobretudo, de dois sentimentos complementares: rejeição à Marília e afinidade com a chapa de Raquel.
A rejeição tende a motivar os eleitores de Anderson Ferreira identificados com o bolsonarismo como reação ao PSB e ao PT, incorporados à campanha de Marília no 2º turno. O mesmo deve ocorrer com quem votou em Miguel, com um adicional: a vice de Raquel, Priscila Krause, atualmente no Cidadania, é recém egressa do União Brasil. Há, portanto, um componente de afinidade capaz de atrair esse eleitorado, formado em sua maior parte por quem vai votar em Raquel e Bolsonaro no 2º turno.
Já os votos de Danilo Cabral (PSB, 886 mil) tendem a ser compartilhados de modo mais equilibrado, para prejuízo de Marília, que teria o potencial, em tese, de absorvê-lo quase por completo, não fosse seu histórico de conflito com o PT e PSB. A reaproximação entre ela e os dois partidos pode não parecer suficientemente genuína nem aos olhos do eleitorado. Para superar isso, a campanha de Marília tenta associar sua adversária a Bolsonaro, uma tarefa complicada, levando-se em conta a formação e trajetória políticas de Raquel. Quem não se convence, tende a ir de Raquel e Lula.
Uma vitória de virada para o Governo de Pernambuco no próximo dia 30 não será algo inédito. Em 2006, Eduardo Campos (PSB) perdeu de Mendonça Filho (PFL) no 1º turno por apenas 5,51%, mas, ao herdar, principalmente, os votos de Humberto Costa (também por rejeição a Mendonça e afinidade com Eduardo), reverteu com folga no 2º, com 65% a 34%. As condições para outro vira-vira ocorrer daqui a uma semana estão colocadas.
Juliano Domingues, jornalista e cientista político, é professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)
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