Ponho-me no picadeiro para encarnar a figura da criança gritando: “O Rei está Nu”. Afinal, apenas a inocência aceita o clamor da verdade. É o caso do “bolsa família” e dos desacertos do que poderia ser uma excelente ideia. Temos receio de que os “colaboradores da transição” não entoem a modinha: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto...” Preferível mesmo seria lembrar Carlinhos Brow; “não desista da educação”.
O problema é que um dos grandes obstáculos no Brasil é a escolha de um Ministro com competência, formação e idoneidade. Os últimos escolhidos desconheciam até mesmo o conceito de educação. Por isso o MEC foi sucateado e o ensino se corrompeu em todos os níveis. Talvez tenha chegado o momento de se inspirar no projeto “A casa do pão”, com oferta de comida e treinamento dos necessitados. A matéria está no JC.
Tenho usado parte do meu tempo, aos domingos, para uma investigação nos supermercados e casas de repasto da Rua Confederação do Equador. A quantidade de famílias abancadas na praça pedindo alimento – incluindo cadeirante - é espantosa. Indago aos desfavorecidos se recebem auxílio governamental. As respostas diferem: “ainda não tenho carteira de identidade; o dinheiro é pouquinho e não dá; fiquei um tempão na fila do Banco e meu nome não estava na lista”.
Minha auxiliar doméstica assegura que as amigas trabalham, mas preferem não ter carteira assinada para receber o dinheiro do “auxilio Brasil”. Triste realidade! Recordo que fiz entrega de alimentos a uma pedinte. Disfarçadamente, ela entregou os produtos a um motoqueiro.
Toda generalização é perigosa, mas a luta pelo extermínio da miséria não pode trilhar caminhos equivocados. Um deles seria formar um exército de empregados informais custeados eternamente pelo erário público.
Qual a solução? Persistir na ideia de que dinheiro público é erva daninha e pode ser usada de forma insana e sem retorno? O exército de “salvadores da transição” está atento a esse problema? Afinal, o auxílio aos pobres deve ser sobrestado no final do treinamento, reciclagem e capacitação dos desafortunados.
Óbvio que há exceções: crianças, idosos e deficientes. As primeiras devem estar em tempo integral na escola recebendo três refeições. Os dois últimos já estão incapacitados para o trabalho e necessitam de medicamentos para a sobrevivência digna.
Não devemos esquecer que dinheiro para a educação e saúde é dinheiro constitucional e deve ser monitorado continuamente. “É uma forma de procura de uma dignidade” no dizer de Clarice Lispector (“Onde tivestes de noite”).
Dayse de Vasconcelos Mayer, professora universitária.
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