OPINIÃO

Eu torço pela Argentina

Só aceito ser expulso da Copa por eles, como em 90 depois de um passe magistral de Maradona para Caniggia, pois a tristeza logo é substituída pela esperança de um título portenho...

ERMANO MELO
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ERMANO MELO
Publicado em 30/11/2022 às 18:24
Alfredo ESTRELLA / AFP
Messi é o grande nome da Argentina na Copa do Mundo - FOTO: Alfredo ESTRELLA / AFP
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Não sendo contra o Brasil, claro, mas explico para não ser cancelado. A primeira Copa do Mundo que vi foi em 1978 e o Brasil foi um ridículo campeão moral; apesar do vexame da seleção peruana, os nossos hermanos estavam com sangue nos olhos, aliás, também nas camisas. Passarela encarnava a raça, choviam papéis e o verde só era visto na parte central do gramado. As canções nunca paravam e o frio obrigava todos a estarem de manga comprida que tentava dar elegância - sem sucesso - aos argentinos cabeludos com cara de mau.

Veio a final com a Holanda, um resquício daquele carrossel de 1974 com a misteriosa ausência de Cruyff. A seleção alviceleste não tinha nada com isso e Mário Kempes mostrou como se joga uma final. Menotti não levou Maradona, que na época tinha 17, mas montou um grande time. Fillol fez defesas impossíveis, Kempes fez 1x0, a Holanda empatou e veio a prorrogação. Torcia pelo time laranja, porém depois do gol chorado, na raça e no sangue de Kempes não pude resistir e vibrei com o terceiro de Bertoni. Estava dominado para o resto da vida.
Em 1982 massacramos a Argentina, mas Paolo Rossi me fez chorar por conta dessa doença crônica, degenerativa e incurável que é o futebol; em 1986, no México, veio uma espécie de revanche da Guerra das Malvinas de 82, só que no futebol, bem melhor. A rivalidade já vinha da copa de 1966, quando Rattín zombou da bandeira inglesa e sentou-se no tapete vermelho exclusivo da Rainha Elizabeth.

O estádio Azteca recebeu 110 mil fanáticos e os Barras Bravas trocaram sopapos com os Hooligans antes do jogo e alguns foram hospitalizados. Segurança máxima e veio a batalha, que para os argentinos era mais importante do que vencer o mundial (o que viria a acontecer contra a Alemanha) pois eram a nação humilhada.
Aos 6 minutos do segundo tempo, vem o gol La Mano de Dios de Maradona; os ingleses reclamaram e Dieguito chamou os colegas que não comemoravam e disse: me abracem senão o gol vai ser anulado! Era o futebol raiz, sem VAR e o gol de mão valeu. Depois de 4 minutos veio a apoteose, o Gol do Século. O gênio arrancou da linha divisória com a bola presa ao seu pé esquerdo, driblou 6 bretões e fez a pelota beijar as redes. O ídolo inglês Gary Lineker confessou que seu desejo era aplaudir ali mesmo, no calor do jogo. Enquanto isso, Zico e Júlio César perdiam pênaltis contra a França e éramos eliminados. Por favor, me entendam, sou fruto dessa geração.
Só aceito ser expulso da Copa por eles, como em 90 depois de um passe magistral de Maradona para Caniggia, pois a tristeza logo é substituída pela esperança de um título portenho. Para finalizar, regras básicas para a copa: 1- A melhor cadeira para ver o jogo é do anfitrião. 2- A cerveja é a tradicional, com 50% de milho; puro malte ou trigo é para Beach Tenis; 3-Churrasco malpassado ou feijoada e amendoim de tira-gosto; 4- As mulheres não podem mais perguntar sobre a lei do impedimento, pois já sabem narrar e comentar muito bem. O resto é permitido.

Ermano Melo, oftalmologista

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