Encerrei a festa em 30/10, mas as crianças birrentas continuaram com os folguedos: a terra é plana, a vacina não protege, a adoração de um pneu, a esperança em alienígenas, a marcha ridícula em torno de quartéis, o clamor por intervenção militar, a utilização da violência em lugar da argumentação, e agora Chico não é autor de Roda-Viva, são sinais típicos de imbecilização de parte importante da população brasileira (notem que me refiro a parte da sociedade; respeito e sempre respeitarei as opiniões divergentes, as pessoas de direita, conservadoras, antipetistas, que naturalmente e de forma civilizada têm divergências em relação às ideias progressistas e às pautas da chamada esquerda). O grande desafio hoje no Brasil consiste em restaurar a inteligência coletiva para resgatá-la dos atropelos que a contrariedade a verdades absolutas e óbvias terminou por sepultar. Não é tarefa fácil. A imbecilização não é injúria, quero dizer uma doença mesmo, doença mental. Doença da qual, aliás, se orgulham os portadores. Ela se desenvolveu em torno de uma pessoa que é manifestamente sociopata, aparentemente originando o vírus da idiotia, para o qual, este sim, não existe vacina. Há uma fonte primária já removida, mas a patologia fica. Que remédios devemos usar? Em primeiro lugar, temos que ter muito cuidado para não sermos como eles, não nos deixarmos apanhar pela doença. Estamos diante de uma oportunidade ímpar de redescoberta de nossa humanidade, que andou ameaçada. Não pensem que não contribuímos para a tragédia da qual começamos a sair, o modelo competitivo, destrutivo, desumano ao qual nos afeiçoamos plantou muitas sementes do ressentimento e do ódio que grassou por aqui. Assim, devemos cultivar a paz, a amizade, a cultura, a literatura, a música. Cantar Gal e Erasmo. O momento exige não a simpatia, mas o amor. No relacionamento social e na vida política, haveremos de primar pela cordialidade, aprimorando sempre a discussão em temos elevados e procurando argumentos e as boas práticas políticas e sociais. Devemos dizer não ao embrutecimento. Empatia, solidariedade, amor ao próximo não são expressões piegas, são a manifestação exata de uma prática cada vez mais necessária e indispensável para harmonização da sociedade brasileira. Gostaria, por outro lado, de apontar um caminho para a cura dos doentes. Lamentavelmente, não vejo saída para eles. Ao menos nesta geração. Creio que um investimento mais adequado em educação voltada para a cidadania, com noções básicas sobre instituições democráticas, respeito à pluralidade, à diversidade e ao próximo tenha o poder de resgatar as crianças. As novas, as que vierem. Para as já contaminadas, só me ocorre palmada e cadeia.
João Humberto Martorelli, advogado
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