opinião

Melhores momentos

Pela primeira vez em 92 anos de competição uma mulher apitou um jogo de Copa do Mundo

JULIANO DOMINGUES
Cadastrado por
JULIANO DOMINGUES
Publicado em 04/12/2022 às 0:00 | Atualizado em 04/12/2022 às 13:33
FABRICE COFFRINI/AFP
Posicionamento do Catar sobre os direitos de LGBTQIA+ gera protestos em todo o mundo. Na foto, ato realizado na Suíça - FOTO: FABRICE COFFRINI/AFP
Leitura:

A Copa do Qatar é um copo meio vazio, é verdade, por questões extracampo já ressaltadas em nosso artigo do dia 20 (Copa & Direitos Humanos), aqui no JC. Mas é sempre bom lembrar: um copo vazio também está cheio de ar. E aqui vai uma breve lista de parte da metade cheia.

A partida entre Dinamarca e Tunísia é um exemplo, menos pelo futebol das equipes e mais pela sua transmissão. Em um país no qual a participação de mulheres no mercado de trabalho é 20% inferior à dos homens, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Renata Silveira se tornou a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo em TV aberta no Brasil, na Globo, enquanto Natália Lara também fazia história no canal por assinatura, o SporTV.

Em um país que matou 135 pessoas LGBTQIA só no primeiro semestre deste ano, de acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), o aspecto inclusivo dessa transmissão é um marco, ainda, por ter contado com Richarlyson como comentarista. Richarlyson com "y" - não confundir com Richarlison, atual camisa 9 do Brasil - foi ídolo em grandes clubes, como São Paulo e Atlético Mineiro, e chegou à seleção brasileira. Bissexual, enfrentou ataques homofóbicos ao longo de sua carreira.

A inclusão também entrou em campo. Pela primeira vez em 92 anos de competição uma mulher apitou um jogo de Copa do Mundo. Mais do que isso, a partida entre Costa Rica e Alemanha contou com arbitragem inteiramente feminina, em trio foi formado pela francesa Stéphanie Frappart, a mexicana Karen Medina e a brasileira Neuza Back, além da canadense Kathryn Nesbitt no VAR.

Essa mesma FIFA, porém, proibiu o uso da braçadeira em apoio à comunidade LGBTQIA com a mensagem "One love", que seria usada por sete equipes europeias. A foto dos jogadores alemães com a boca tapada em protesto contra a sanção deve entrar para a história das imagens que marcam o esporte, na mesma galeria de Tommie Smith e John Carlos de punhos erguidos, nas olimpíadas de 1968.

A inclusão chegou, ainda, a invadir o campo no jogo entre Portugal e Uruguai, como devem ser os atos de contrapoder. Foi quando o italiano Mario Ferri fez tremular na cara dos caretas a bandeira mais temida do Qatar e, de quebra, ele vestia uma camisa com as frases "Salve a Ucrânia" e "Respeito pelas mulheres iranianas". A Copa do Qatar tem sido assim, "uma metade cheia, uma metade vazia, uma metade tristeza, uma metade alegria".

Juliano Domingues, professor, coordena a Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação da Unicap.

 

Comentários

Últimas notícias