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A verdade sobre a polarização eleitoral

As cores servem para tornar nítido a polarização. Mas não só elas

ADRIANO OLIVEIRA
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ADRIANO OLIVEIRA
Publicado em 10/12/2022 às 17:12
TV JORNAL CARUARU
Santa Cruz do Capibaribe, cidade de Pernambuco equivocadamente qualificada como bolsonarista - FOTO: TV JORNAL CARUARU
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Quem conhece a dinâmica eleitoral das cidades do Nordeste sabe que as eleições municipais são tradicionalmente polarizadas. De um lado, está o amarelo, do outro, o vermelho. As cores servem para tornar nítido a polarização. Mas não só elas.

Em Santa Cruz do Capibaribe, cidade de Pernambuco equivocadamente qualificada como bolsonarista, estão presentes os Taboquinhas versus Boca pretas. São as pesquisas qualitativas que apontam a intensidade da polarização e qual grupo, em dada eleição, está mais forte e tende a vencer o pleito.

A dinâmica da polarização em cidades do interior é complexa e exigir olhar apurado do pesquisador. As prefeituras exercem força de atração sobre os eleitores através da distribuição de espaços no poder e incentivos diversos.

Dessa forma, o grupo do prefeito eleito cresce durante o exercício do poder e declina quando perde a eleição. Existem na disputa polarizada os eleitores fiéis, volúveis e indiferentes.

Os primeiros não desistem de permanecer ao lado do líder derrotado. Os segundos pulam quando descobrem que o “barco afundará” ou quando ele afundou. E os terceiros não estão preocupados com nenhum grupo. Desejam que o prefeito trabalhe para todos.

São os votantes indiferentes que decidem a eleição. Postulantes míopes são engolidos pela eterna disputa de grupos e cometem o equivoco de falarem só para os seus eleitores.

Os competidores sábios, por sua vez, falam para todos e não oxigena a polarização. As bolhas eleitorais estão presentes no interior e conduzem os candidatos a equívocos estratégicos, já que elas incentivam os competidores a falarem, apenas, para um dado grupo.

A transição demográfica e o aparecimento do “novo” têm o papel de enfraquecer a polarização. Se antes o amarelo disputava com o vermelho, a chegada de jovens votantes e de novos moradores possibilitam o nascimento de novos grupos políticos e lideranças.

Quando um novo grupo político vence a eleição, os antigos grupos não morrem, perdem força. Só que algum outro segue polarizando com o novo grupo político.

É possível também que prefeitos tão bem avaliados e não pertencentes a tradicionais grupos políticos enfraqueçam fortemente a polarização.

A disputa entre Lula e Bolsonaro não criou um Brasil polarizado. A polarização sempre existiu, basta mergulharmos no Brasil profundo, o qual acabei de mostrar; e de realizarmos breve retrospectiva histórica.

FHC polarizou com Lula nas disputas de 1994 e 1998. Lula e o lulismo, em 2002, 2006, 2010 e 2014 polarizaram com os candidatos do PSDB. Em 2002, o lulismo surgiu, ganhou tração e seguiu com imensa força até 2010.

Em 2014, a polarização entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) foi intensa e revelou o início do declínio, mas não a quebra, do lulismo.

O início da Lava Jato em 2019 foi a variável principal que reforçou o enfraquecimento do Lulismo. No ano de 2018, sem a presença de Lula, o PT polarizou com outra força política.

Nessa eleição, o PSDB chegou profundamente enfraquecido e cedeu espaço ao imponderável: Jair Bolsonaro. Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) polarizaram a disputa eleitoral.

Com a chegada de Jair Bolsonaro à presidência da República surge o bolsonarismo, o qual, ressuscita fortemente o lulismo.

Nesta última disputa presidencial, o lulismo vence o bolsonarismo por margem apertada. Todavia, como bem apontam pesquisas qualitativa e quantitativa, o eleitor de Lula não é, necessariamente, petista ou lulista; e o eleitor de Bolsonaro não é, obrigatoriamente, bolsonarista.

Com a desbolsonarização da dinâmica eleitoral, novas lideranças na direita civilizada surgirão para polarizar com o forte lulismo, já que este deve ganhar força em razão de Lula está no exercício do poder.

É possível que o lulismo caminhe unido por um tempo, mas sofra com dissidências, e novos atores advindos do governo do PT, disputem a eleição de 2026. Na vindoura eleição presidencial, o lulismo polarizará com alguma outra força.

Portanto, a polarização não é fenômeno novo no Brasil e não foi Jair Bolsonaro que a inventou. Há muito tempo, a polarização está no Brasil profundo e nas eleições presidenciais. E a sua dinâmica, a qual foi aqui explicada, seguirá, pois a polarização é característica quase que permanente da dinâmica eleitoral.

Adriano Oliveira, doutor em Ciência Política, professor da UFPE, fundador da Cenário Inteligência.

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