O fanatismo bolsonarista mostrou a sua cara violenta, autoritária e delinquente. A invasão simultânea das três instituições da República - Congresso Nacional, Palácio do Planalto e STF-Supremo Tribunal Federal - foi um atentado grave e inaceitável à democracia brasileira. A depredação das instalações, dos equipamentos e de obras de arte das três instituições foi uma ação de delinquentes formados na escola de ódio e intolerância política ao longo dos quatro anos de mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro. Com o seu mergulho no silêncio suspeito após a derrota eleitoral e a sua fuga para a Flórida, antes mesmo do encerramento do seu governo, sinalizando que não reconhecia o resultado das urnas, Bolsonaro deixou o ovo da serpente chocando nos meios radicais do bolsonarismo. Como ele sempre demonstrou desrespeito às instituições e rejeição da vontade popular expressa nas urnas, não é nenhum exagero afirmar que Bolsonaro foi o autor intelectual destes gravíssimos acontecimentos de violência contra as instituições democrática do Brasil.
A quase unânime reação da sociedade e dos políticos ao atentado bolsonarista mostra a força da democracia brasileira. Por cima dos destroços deixados pelos vândalos nas edificações que simbolizam os três poderes, as instituições democráticas saem fortalecidas. Por outro lado, é provável que parcela significativa dos eleitores de Bolsonaro, mesmo que continue contra o presidente Lula da Silva, rejeite as agressões delinquentes dos grupos fanáticos de extrema direita. Os eventos dramáticos deste domingo podem significar, portanto, o isolamento do bolsonarismo raiz e o esvaziamento da própria base social do ex-presidente.
Parece estranho, contudo, a facilidade como centenas de delinquentes bolsonaristas invadiram as instalações das três instituições e permaneceram, durante horas, destruindo o patrimônio público. Todo mundo sabia do risco de uma provocação na Esplanada dos Ministérios, qualquer monitoramento das redes sociais perceberia que estava sendo preparada uma grande concentração de bolsonarista neste domingo. A Polícia do Distrito Federal sabia e não montou esquema de segurança para proteger as instalações, o Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, bolsonarista fiel, viajou para Miami. Mais do que lenientes, o governador e o secretário de Segurança são corresponsáveis pelos atos de violência e agressão à democracia.
Também parece estranho que o serviço de inteligência do governo federal não tenha detectado e antecipado a ameaça, acionando os protocolos de proteção às instituições e às autoridades da nação, incluindo o Presidente da República que poderia estar no palácio. A democracia resistiu a esta agressão. Mas as instalações demostraram uma grande vulnerabilidade. Agora é necessário punir duramente os agressores e reforçar o sistema de segurança das instituições democráticas para impedir novas aventuras golpistas no Brasil.
Sérgio C. Buarque, economista
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