Nos últimos dias, a covid-19 voltou a ser uma preocupação mundial em um cenário no qual a maioria da população acreditava que estávamos no fim da pandemia, com o retorno total à normalidade sem medidas de precaução. Ocorre também a falta preocupação das pessoas, que ainda não completaram seus esquemas vacinais com as doses de reforço e a vacinação pediátrica patinando em baixíssimas coberturas, seja por falta de insumos, desinteresse dos pais ou medos infundados.
Temos a notícia que a subvariante da ômicron XBB.1.5 que resultou de uma fusão de duas linhagens da BA.2 da ômicron, sendo com isso muito transmissível, e passou a ser responsável rapidamente por 40% dos casos nos EUA.
Dados de Nova York indicam que essa subvariante provocou um aumento acentuado nas hospitalizações, especialmente em idosos, sendo maior até que no inicio da circulação da ômicron, e juntamente com esse grupo, as pessoas que fizeram esquemas vacinais incompletos e os imunocomprometidos são novamente os mais vulneráveis.
No Brasil, esta subvariante já foi identificada em São Paulo, e pela sua transmissibilidade, infelizmente é muito provável um aumento importante no número de casos nas próximas semanas.
Na verdade, todos deixaram a covid-19 como preocupação secundária, porém o vírus, com suas subvariantes, deixa bem evidente que ele continua sendo uma ameaça, evoluindo com capacidade de se espalhar mais rapidamente, com maior infectividade, e escape imunológico pela vacinação ou doença prévia.
Além dos EUA, a subvariante está ganhando força em muitos países europeus e asiáticos. A China está em uma grave uma crise de covid-19, pelas medidas recentemente adotadas em uma população que ainda era suscetível e com baixa cobertura vacinal, o que a torna um lugar de risco para o surgimento de novas variantes.
Embora não pareça que a XBB.1.5 seja mais patogênica, com grande risco de formas graves, sua capacidade de propagação é impressionante. Também não podemos atribuir os números atuais nos EUA apenas à subvariante, pois ocorreu redução significativa do uso de máscaras e outras medidas de mitigação, além de coberturas vacinais inadequadas, mesmo diante da disponibilidade de vacinas.
E qual seria o caminho para reduzir os impactos no Brasil?
É essencial melhorar o monitoramento da epidemiologia e vigilância genômica, iniciar com rapidez reforços de vacinas nos grupos de risco, de preferência com as vacinas bivalentes. Essas vacinas já demonstraram melhor efetividade, induzindo maiores níveis de anticorpos neutralizantes e possivelmente ampliando a imunidade contra o XBB.1.5.
E se necessário, não ter receio de voltar a recomendar o uso de máscaras em ambientes fechados, não encarando isso como um retrocesso, e sim como medida essencial para conter o risco de um novo surto.
Precisamos de melhores vacinas que garantam respostas adequadas independente das variantes circulantes com adequada duração da proteção. A lição que o vírus esta nos dando é que ele pode evoluir aumentar seu escape imunológico e a possibilidade de novas variantes não ômicron. Estamos todos exaustos da pandemia, menos o Sars-Cov2.
Eduardo Jorge da Fonseca Lima, médico e pesquisador do IMIP, professor da FPS e conselheiro do CREMEPE.
Comentários