OPINIÃO

Turismo autossustentável

Preservar é preciso... Essa conscientização tem a pedagogia do passado-presente na consecução do presente-futuro.

ROBERTO PEREIRA
Cadastrado por
ROBERTO PEREIRA
Publicado em 20/01/2023 às 0:00 | Atualizado em 20/01/2023 às 12:08
HERMÍNIO OLIVEIRA/AGÊNCIA BRASIL
NORONHA: Para que "turismo não destrua o próprio turismo".... - FOTO: HERMÍNIO OLIVEIRA/AGÊNCIA BRASIL

O turismo teve, nas últimas décadas que antecederam a pandemia, o seu fluxo aumentado, graças à fuga dos tumultos gerados nos grandes centros urbanos, provocando uma (in)consequente busca à natureza, já que as pessoas passaram a ser consumidoras do verde. Impõem-se, assim, estudos e reflexões sobre a prática de um turismo planejado, racional, perene, autossustentável.

O crescente aumento da demanda turística aos ambientes naturais, porque ambientes extremamente sensíveis, induz a que o planejamento dos espaços a serem visitados, dos equipamentos utilizados e das atividades promovidas, sugere medidas à prática do turismo, seja como manutenção dos meios postos e expostos à visitação, seja para preservar os encantos e belezas desses ambientes ao cometimento espiritual das gerações futuras.

Agora, no período pós-pandemia, o turismo vai retomando a sua espiral de crescimento, vivenciando uma nova normalidade, mas mantém os valores da sua sustentabilidade, sem descurar dos cuidados preventivos à saúde e ao bem-estar dos visitantes/turistas.

É da percepção da World Comission on Environment and Development (WCED) que definiu o turismo sustentável, como sendo "aquele, que atende às necessidades dos turistas atuais, sem comprometer a possibilidade do uso fruto dos recursos pelas gerações futuras."

Os recursos turísticos, como sabemos, são apenas dois: os naturais e os culturais. Por igual, são muitos os impactos culturais, favoráveis, uns, desfavoráveis, outros. A descaracterização do artesanato, um dos impactos por vezes negativos. A sua produção em massa, feita exclusivamente para atender à cobiça dos turistas, perde muito das raízes e da originalidade, passando a compor o acervo da chamada "arte de aeroporto," numa descaracterização das suas raízes e feita, somente, por interesses comerciais.

Vulgarização das manifestações tradicionais, outra. É quando a ambição mercantilista leva à estilização e deformação das manifestações folclóricas, por exemplo. Espetáculos de rua, manifestações populares, quando levados aos salões de luxo, perdem em autenticidade, para servir tão somente aos interesses turísticos, constituindo-se numa arrogância cultural.

Finalmente, a destruição do patrimônio histórico, um dano aos valores maiores do passado-presente de cada lugar viajado. Atenas, capital da Grécia, sofreu com o turismo de massa, sem o zelo que se impunha à sua grandiloquência histórica e arquitetônica. Em quase todos os destinos turísticos, entre as pessoas que viajam, percebe-se uma perigosa falta de "cultura turística," levando-as a uma conduta marginal, como se não tivessem, com o meio visitado, compromissos com a preservação da natureza e da cultura.

Na esteira da massificação, para que o "turismo não destrua o próprio turismo," impõe-se a criação de planos e programas de preservação das áreas naturais, bem como dos sítios arqueológicos, dos casarões e casarios, e, também, dos monumentos históricos, para que o turismo continue gerando os bens sociais que sabemos ser capaz, a ponto de, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), até antes da pandemia, no mundo, a cada nove trabalhadores, um estava no segmento do turismo.

Entendemos, como crime de lesa-ecologia, um turismo que se estabelece e gera a destruição de áreas naturais, deixando que estas se tornem urbanizadas e poluídas pela grande massa de visitantes. Por igual, peca contra a cultura e a identidade cultural do homem nativo, quem, na destinação turística, não respeita os monumentos, bem como o folclore, o artesanato e outras manifestações do espírito, sem preservar a sua autenticidade e originalidade.

Preservar é preciso... Essa conscientização tem a pedagogia do passado-presente na consecução do presente-futuro.

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).

 

Comentários

Últimas notícias