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Vagas escolares sobrando, e são muitas!

Só 16% das vagas destinadas aos alunos novatos nas escolas estaduais tinham sido preenchidas

MOZART NEVES RAMOS
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MOZART NEVES RAMOS
Publicado em 30/01/2023 às 0:00
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Das 62.711 vagas abertas em novembro, apenas 10.359 foram efetivadas - FOTO: REPRODUÇÃO/GOOGLE STREET VIEW

Matéria publicada neste JC de 19/01/2023 mostra que só 16% das vagas destinadas aos alunos novatos nas escolas estaduais tinham sido preenchidas – ou seja, das 62.711 vagas abertas em novembro, apenas 10.359 foram efetivadas.

Outra coisa que me chamou muito a atenção foi com relação às vagas não preenchidas em escolas de tempo integral – já que Pernambuco se tornou uma referência nesse modelo. Das 52.352 vagas não preenchidas, 14.967 são em tempo integral.

Logo que comecei a ler a matéria, pensei que se tratasse de uma situação de momento. Mas não. O problema vem ocorrendo ao longo dos últimos três anos – a partir de 2020. Penso que esse comportamento deva merecer atenção por parte da secretaria. E por quê?

Inicialmente, seria interessante verificar se essa situação também se aplica aos dois últimos anos anteriores à pandemia, ou seja, 2018 e 2019, já que um de seus legados foi o aumento do desinteresse pela escola entre os jovens, especialmente pressionados pela busca de atividade laboral para complementação de renda – o que implica a necessidade de fazer um trabalho de busca ativa associado a um programa que possa levar renda aos jovens.

Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), já é possível oferecer cursos de curta duração associados às microcertificações que podem levar renda aos jovens. Para jovens de alta vulnerabilidade socioeconômica, é importante ter uma política que lhes permita estudar e ao mesmo tempo ter renda.

Mas pode haver outros fatores em jogo. É preciso que a secretaria saiba efetivamente qual a demanda hoje por escola entre os jovens. O fluxo escolar melhorou muito (o que não significa que a aprendizagem tenha melhorado na mesma proporção), e com isso reduziu-se a demanda.

Dados do instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) revelam que, de cada mil jovens, 110 estão fora da escola em Pernambuco, levando em conta o Indicador de Permanência Escolar (https://www.portaliede.com.br/iede-lanca-indicador-de-permanencia-escolar-que-mostra-total-de-jovens-que-abandonaram-a-escola/), que utiliza dados do Censo Escolar para mensurar o total de alunos que ingressaram no sistema, mas em algum momento de sua trajetória abandonaram a escola.

Os dados, com base no número de matrículas em 2020, mostram que, antes mesmo da pandemia de coronavírus, o Brasil – e nesse contexto também Pernambuco – já tinha dificuldade de manter os jovens na escola.

Outro aspecto que precisa ser analisado é o alinhamento da oferta com o crescimento migratório da população. Determinados bairros podem estar sofrendo migração da sua população jovem para outros territórios, ou mesmo estagnação e queda de sua população.

Assim, as escolas daqueles bairros começam a não ter mais demanda – mas em outros bairros pode estar acontecendo o inverso. Isso tem sido muito frequente nas cidades de grande e médio porte – o que implica a reorganização da oferta territorial de matrícula.

Esses e outros aspectos precisam ser analisados, pois podem produzir insumos importantes para repensar o tamanho da rede escolar e a necessidade ou não de contratar mais professores, por exemplo. Mas também podem estar associados a uma baixa atratividade dos jovens pela escola atual.

Mesmo as escolas de tempo integral vão precisar repensar seu currículo para acompanhar o atual cenário disruptivo que estamos vivendo.


Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE

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