O terremoto institucional do dia 8 de janeiro foi devastador. A linha do cisalhamento do Estado de Direito passou raspando e o Brasil sobreviveu. Na geologia dos movimentos anômicos é preciso estar preparado para outros "aftershocks" que se seguirão.
Nas últimas semanas, como desgraça pouca é bobagem, além da extensiva cobertura sobre as apurações de responsabilidades pela depredação das sedes dos três poderes, fomos chocados pelas imagens do abandono dos Ianomamis.
Esquálidos, por famintos, a comunidade assistiu sem forças a inoperância do Estado brasileiro a permitir que o "homem branco" e o garimpo tomassem de assalto suas terras e as transformassem em paraíso da afronta ambiental.
Só quem conhece de perto essas aldeias percebe a ingenuidade e impotência daqueles povos. Eles precisam de ajuda para manterem suas tradições, ao tempo em que deverão, aos poucos, se integrarem no esforço do país para desenvolver e preservar a região.
A imprensa, ao trazer a calamidade que se prostou sobre as Terras Ianomamis, mostrou o esforço conjunto das Forças Armadas em cooperar com os órgãos federais e estaduais para salvar vidas.
É importante destacar que elas estão na região há anos. São pelotões de fronteiras do Exército localizados onde ninguém teve antes coragem de se fixar. São os voos da Força Aérea para ressuprimento e ajuda às aldeias. São os navios hospitalares da Marinha a cortar os rios amazônicos levando saúde às comunidades ribeirinhas.
Tive oportunidade de visitar alguns dos pelotões de fronteira. Cerca de cinquenta homens e mulheres, liderados por um jovem oficial, estendem o poder do Estado sobre áreas de difícil acesso, alvo de cobiça indiscriminada.
É comovente ver a dedicação dos familiares desses militares. Sim, eles moram nos pelotões.
Quando estive na Cabeça do Cachorro, conduzindo uma comitiva do poder judiciário, em um programa de aproximação do Exército com os Poderes da República, uma jovem (se muito tinha vinte e cinco anos), esposa do tenente, nos contava como participava auxiliando a comunidade.
Os integrantes da comitiva, emocionados, a encheram de perguntas:
- Como você faz para dar as aulas? Tem internet? Tem TV? E a energia elétrica?
- De onde você é?
Tímida, respondeu:
- Trouxe livros doados e recebo ajuda da sede do Batalhão. A internet e a TV funcionam precariamente. A energia é de gerador.
- Minha família mora na praia de Boa Viagem.
A jovem, seu esposo e todos os integrantes do pelotão eram a única referência de cidadania naquele rincão. Parece que nada mudou.
Braço forte, mão amiga!
Paz e bem!
Otávio Santa de Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva
Comentários