O tempo nublado, as árvores calmas, um silêncio no ar. As ruas em nostalgia, vejo poucos carros circulando. Há um sentimento de inação tal qual um intervalo entre a multidão que permeia o mundo. A sequência das noites não parece existir. Uma incomum atmosfera. Na varanda, os quintais não se mexem, os ruídos inexistem, como se o palco dos dias pedisse licença para descansar. As horas se sucedem com um certo pudor, cresce um sentimento meditativo. Olho para o relógio, 16h30. O derredor se acalenta na sua própria inação. Sento-me na confortável cadeira, contigua à pequena mesa e começo a divagar. Nada tenho a dizer; entretanto, há tantas imagens no cérebro! Reina um excesso de encantamentos que me levam a aplaudir o instante. Afinal, tenho sempre a alma repleta de intenções. Hoje, de uma forma; amanhã, de outra. Pouco importa. Caminho devagar, em múltiplas direções, não sei que estrada escolher. Todas se concentram em novas abordagens. Na verdade, acompanho o tempo, o maior instrumento da história.
E entrego-me aos detalhes, quase como uma criança que não sabe o que fazer. As razões se misturam entre o que imagino e o que vejo. Desde cedo, tenho a capacidade de remexer nos meus impulsos. Vou e volto em uma ciranda constante. Urge intensificar a melodia das emoções, mas careço de vontade para criar variáveis. Todos os dias me renovo, então, acredito na dinâmica do ser. Quantas serei? Impossível responder. Melhor optar pelo sonho. Quantas vezes me ignoro por entre uma absoluta consciência?
Estarei sempre à espera de mim mesma. Nada impede um prosseguir misterioso. Entrego-me ao mistério da dinâmica complexidade para, então, sentir-me indefinidamente múltipla. A existência precisa se doar à ignorância do Ser. Assim, o ato da renovação me leva ao mais sublime patamar. Em busca de perspectivas acumuladas, prossigo. Basta-me conhecer os enigmas que me cercam. Serei capaz de divisá-los? Creio que não. Importa a consciência do que sou e do que não sou. Tudo mais é pequeno na trajetória existencial. Seguir adiante traz-me a mais perfeita pulsão ontológica. E, assim, percebo a humanidade em plena ascensão. Com a intensa alegria de existir.
Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letra-fquintas84@terra.com.br
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