OPINIÃO

Brasil, eterno país do futuro

O Brasil, em suma, não é e nunca foi o país do futuro. Não podemos nos contentar a ser eternamente o país do futuro. É imperioso identificar as alavancas capazes de transformar o presente...

EDUARDO CARVALHO
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EDUARDO CARVALHO
Publicado em 17/02/2023 às 0:00 | Atualizado em 17/02/2023 às 10:24
GUGA MATOS/JC IMAGEM
"O Poder Executivo não tem projeto para o país". ..."Nesse cenário, os problemas sociais só se agravarão". - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM

O austríaco Stefan Zweig, jornalista, biógrafo, publicou em 1941 a mítica obra: "Brasil, país do futuro". Consiste numa apresentação do Brasil para o mundo, sob um olhar ufanista e idealizado do paraíso nos trópicos, constituído por uma beleza exuberante, com abundantes riquezas naturais. Um país que aproveitaria seu gigante potencial para gerar prosperidade para todos. Mais de oitenta anos se passaram desde a publicação do livro e a visão de Zweig não aconteceu.

Desde então, houveram avanços civilizatórios significativos, como redução da mortalidade infantil, aumento da expectativa de vida, universalização do ensino básico, construção do Sistema Único de Saúde. Os indicadores das produções de alguns minerais, produtos agrícolas e da pecuária são grandiosos. O país tem ricas reservas florestais, relevo com baixa altitude e rios com grandes extensões. E ainda é banhado pelo Oceano Atlântico de Norte a Sul na Costa Leste. Não possui desertos nem padece de desastres naturais de grande intensidade como furacões, terremotos e erupções vulcânicas.

Entretanto, esse cenário não está representado em outros tantos indicadores, de acordo com relatórios mais recentes, como: o PIB per capita em 75º lugar do ranking global, a pior desigualdade de renda na 14ª posição, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na 79ª colocação, entre 169 países de acordo com o Banco Mundial. O IBGE indica que o país tem cerca de 17,9 milhões de miseráveis. A Transparência Internacional avalia o indicador de percepção de corrupção, situando o país na 94ª posição, entre 180 países. Considerando a facilidade de abrir um negócio, o Relatório Doing Business - 2021 (Fazendo negócios), também do Banco Mundial, coloca o Brasil na 125ª posição, entre 190 economias do mundo. O desempenho do Poder Judiciário classifica-se em 120º lugar, entre 141 países, pelo relatório do Fórum Econômico Mundial.

Esses relatórios e os de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, Educação básica da OECD/PISA, entre outros nacionais e internacionais, apontam para as causas desses indicadores vergonhosos. Mostram que é crucial cuidar de inúmeras reformas, mas o Poder Legislativo trava. Senado e Câmara Federal contam com 594 parlamentares e orçamento anual de R$13,5 bilhões, mas com uma produtividade medíocre. Consequentemente, o nível de confiança da população nessas instituições é trágico. Não existe interesse na renovação do sistema político. O "toma lá, dá cá" domina e ameaça a democracia do país.

O Poder Executivo não tem projeto para o país. Suas lideranças não avaliam as prioridades sistemicamente e no longo prazo. Cria-se ambientes político e econômico instáveis provocando a sucubência de empresas brasileiras, encerramento das atividades de algumas multinacionais, além de desestimulo à atração de investimentos internacionais sustentáveis. Nesse cenário, os problemas sociais só se agravarão.

O Brasil não foi e nem é capaz de criar empregos qualificados. Continua produtor de bens simples, agrícolas ou minerais. O oposto do que todos os países ricos fizeram e fazem. Vale destacar a Coreia do Sul, um pais pequeno e pobre, que deu um salto extraordinário por meio de fortes investimentos na educação básica, na inovação tecnológica e na integração com o mercado mundial por meio da exportação de bens de alto valor agregado.

A armadilha do sobe e desce e baixo nível de crescimento do PIB - Produto Interno Bruto mostra uma realidade decepcionante. O atual cenário indica um baixo potencial de desenvolvimento de longo prazo. Fato preocupante, considerando o alto nível de pobreza e os inúmeros problemas que urgem serem solucionados. Os três poderes da República, nas instâncias federal, estadual e municipal são responsáveis por esses péssimos indicadores.

O Brasil, em suma, não é e nunca foi o país do futuro. Não podemos nos contentar a ser eternamente o país do futuro. É imperioso identificar as alavancas capazes de transformar o presente, para alcançar o desenvolvimento sustentado e o crescimento com equidade, além de um projeto nacional com objetivos para o bem coletivo. Do contrário, seguiremos nos questionando se um dia esse tal futuro próspero chegará.

 Eduardo Carvalho, Autor do Livro Por um Brasil digno

 

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