OPINIÃO

Canta, galo!

Este ano, a Cidade das Pontes vai tremer. A palavra de ordem, com permissão do imortal compositor, José Mario Chaves, é: VEM PESSOAL/VEM MOÇADA/A VIDA ABRAÇA ETERNIDADE/SEM MEDO DA COVID/FANTASIADA DE BICHO COVARDE.

GUSTAVO KRAUSE
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GUSTAVO KRAUSE
Publicado em 18/02/2023 às 0:00 | Atualizado em 18/02/2023 às 7:45
RENATO RAMOS/JC IMAGEM
"Acorda, alegria....CANTA GALO!!!!! - FOTO: RENATO RAMOS/JC IMAGEM

Ano passado, com alma dolorida e baixa caloria de esperanças, escrevi indesejado artigo: "O silêncio do Galo da Madrugada". Para os que conhecem, brincam, se esbaldam, ordenam: "manda embora essa tristeza, manda por favor...", ou "quarta-feira ingrata chega tão depressa só para contrariar", a sensação foi de uma perda irrecuperável de tempos intensos vividos quatro dias e quatro noites.

Pois bem, rodeados de grandes carnavalescos, o centenãrio Enéas Freire convenceu São Pedro, sob a jura da vacinação em massa, juntar o consagrado MARACACÉU de Naná Vasconcelos com o ESCARCÉU, manifestação de exuberante folia carnavalesca, compartilhada pela população celestial.

Profundamente triste, O Galo pediu para permanecer em silêncio e foi respeitosamente compreendido por todos. O nó na garganta não desatava. Era uma espécie de represa do choro. Somente Eneias sabia que o Galo, um ano mais tarde, trocaria a oração silenciosa, contrita, de reverência ao amor ao próximo, pelos clarins do sábado de Zé Pereira.

Do reino animal, provavelmente, o galo é o personagem do mais amplo simbolismo. Corajoso, usa o esporão combatente e bico afiado: tanto defende, quanto, necessário, ataca; a crista mais parece emblema hierárquico na ordem animal; na luta, prefere morrer a fugir da morte, se estiver em jogo a guerra pelo terreiro e pelo chamado dos afetos da tribo.

A tudo observava no solitário recanto. E rogava a João Cabral que voltasse o dia em que "de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo para que a manhã, desde uma teia tênue se vá tecendo, entre todos os galos": percebia, no entanto, que não estava pronto para voar na busca de libertar a alma da realidade terrena, capaz de anunciar o fim da noite, a ressurreição do dia, renascimento, vida e, com ela, a anunciação de uma nova luz. Enquanto isso, o frevo trovejava.

O ESCARCÉU terminara como começara: o Galo silente. Porém muito observador, percebera que o toldo, a manhã/metáfora de João Cabral, tecido, tão aéreo se eleva por si: luz balão. Retemperado, cochichou com Eneias: "em 2023 vou desfilar como o Galo Preto Ancestral: um gigante de sete toneladas e 28 metros de altura, coberto pelas cinzas dos nossos antepassados, abraçado pelo sincretismo religioso no afago pernambucano do verde/azul tropical".

Este ano, a Cidade das Pontes vai tremer. A palavra de ordem, com permissão do imortal compositor, José Mario Chaves, é: VEM PESSOAL/VEM MOÇADA/A VIDA ABRAÇA ETERNIDADE/SEM MEDO DA COVID/FANTASIADA DE BICHO COVARDE.

Acorda alegria, CANTA GALO!!!

Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco

 

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