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Inovação contábil no balanço das Americanas

Trata-se de algo inusitado no âmbito dos contadores, dos auditores, do mercado financeiro e da Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Essa "inovação contábil praticada no balanço da Americanas", se fosse realmente adotada pelo mercado e o registro contábil fosse sistemático, acarretaria em distorções relevantes nos balanços das demais empresas varejistas deste segmento de negócio

CLÁUDIO SÁ LEITÃO
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CLÁUDIO SÁ LEITÃO
Publicado em 22/02/2023 às 6:00
Reprodução/Americanas
A Americanas está devendo a um número alto de credores - FOTO: Reprodução/Americanas

As Lojas Americanas S.A. (Americanas) é uma das principais varejistas do Brasil. O caso de inconsistências de lançamentos contábeis, realizados nos balanços de vários anos, na ordem de R$ 20 bilhões da Americanas, ficará marcado na história como um dos maiores escândalos corporativos da história brasileira e mundial.

Ninguém, de fora da contabilidade da Americanas, sabe ao certo o que ocorreu na contabilidade da varejista e o tamanho do rombo. Ao longo de muitos anos, a varejista deixou de registrar os juros pagos nas “operações de risco sacado”, como despesas financeiras, nos resultados dos exercícios, o que teriam aumentados os lucros de vários exercícios e, consequentemente, o patrimônio líquido.

Trata-se de algo inusitado no âmbito dos contadores, dos auditores, do mercado financeiro e da Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Essa “inovação contábil praticada no balanço da Americanas”, se fosse realmente adotada pelo mercado e o registro contábil fosse sistemático, acarretaria em distorções relevantes nos balanços das demais empresas varejistas deste segmento de negócio.

O Ex – CEO da Americanas não precisou de ser um expert em contabilidade e de grandes investigações para identificar o problema. Tudo indica que, foi seguindo pistas existentes na própria escrituração contábil da varejista, juntamente com a ajuda de executivos de dentro da Americanas, obteve explicação do registro daquela operação.

Vale salientar que essa “operação de risco sacado” é procedimento comum adotado no mercado pelos varejistas. Na prática, a varejista pega o dinheiro emprestado em um banco para comprar dos fornecedores. O banco paga aos fornecedores e a varejista paga ao banco o dinheiro financiado com juros. Isso é bom para a varejista, porque o empréstimo tem um prazo de pagamento maior do que o exigido pelos fornecedores, ficando mais dinheiro no caixa para a sua operação.

O problema foi que o procedimento de registro contábil não foi efetuado informado corretamente no balanço da Americanas. Em vez de que registrar os valores como uma dívida bancária, estes foram informados como dívidas aos fornecedores e não reconhecidos as despesas financeiras.

Essa prática distorceu os resultados dos exercícios de vários anos da Americanas, porque fez com que as despesas financeiras da varejista e os endividamentos bancários aparecessem nos balanços com valores menores, do que os devidos na realidade, aumentando o lucro e o patrimônio líquido.

A CVM, órgão que regula e fiscaliza o mercado de capitais, precisa rapidamente se posicionar, de forma efetiva e transparente, punindo com lisura e responsabilidade todos os envolvidos nas omissões das informações relacionadas com a “inovação contábil no balanço da Americanas”, que causou distorções relevantes nos referidos balanços e prejuízos a todos acionistas que viram os seus investimentos tornarem pó.

Cláudio Sá Leitão, conselheiro pelo IBGC e CEO da Sá Leitão Auditores e Consultores.

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