OPINIÃO

Fraternidade e pão, campanha de combate à miséria

Nessa campanha, mais uma da CNBB, vale lembrar, que mais importante do que o peixe é a arte de saber pescar. Ou seja, a pedagogia do aprendizado, da capacitação, da alfabetização, alimenta os fazeres dos alimentos de cada dia.

ROBERTO PEREIRA
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ROBERTO PEREIRA
Publicado em 23/02/2023 às 23:47
THIAGO LUCAS/ ARTES JC
Insegurança alimentar - FOTO: THIAGO LUCAS/ ARTES JC

Em boa hora, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) traz a lume, pela terceira vez, à Campanha da Fraternidade (CF), de 2023, o tema Fraternidade e fome, e o lema "Dai-lhes vós mesmos de comer" (Mt 14,16). É para a vida que Cristo nos libertou. Para a vida com dignidade e para a humana liberdade, valores inerentes às pessoas deste mundo de meu Deus.

A fome é má companheira, ninguém esfomeado pode se sentir livre. No caso, estaria acorrentado pelas forças do mal e dos impiedosos. É para a liberdade que Cristo nos libertou. Uma exaltação, portanto, à humana fraternidade e à liberdade entre sociedade e autoridades, um dar de mãos às mãos livres e ao banimento da escravidão sob todas as formas.

O Papa Francisco, sobre o tema, no vídeo que enviou ao lançamento da CF, aqui no Recife, exclamou, na sua reflexão, sobre o tema da fome entre os católicos brasileiros, que no tempo da Quaresma seja "uma atitude de todos que nos comprometem com Cristo, presente em todo aquele que passa fome."

Dom Fernando Saburido, exultante, diz: "estamos possibilitando não ficarmos só na reflexão e termos ações concretas para com as pessoas carentes."

A CF se propõe a trazer à baila esses assuntos que compõem a malsinada fome, este segmento desumano da economia e das gestões públicas, que parece desconhecer as virtudes humanas e, sobretudo, a existência suprema de Deus, sempre ampliando o seu bisonho cenário de barbárie, de aviltamento das pessoas enquanto gente e agente do bem, conforme se subtende natural à essência humana. Alguém explorado implica alguém levando vantagem, eis a malévola equação.

A fome fragiliza as pessoas. Tira-lhes a força, mas também as deixa subservientes quando diante dos poderosos, gerando, daí, a escravidão diante dos mais ricos, dos políticos, dos desumanos. Por isso, a união é necessária, motivo pelo qual fomos convocados para essa missão da Igreja, que leva em conta o social. São mais de 33 milhões de brasileiros que estão em situação de fome no país, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Este jornal, no seu editorial de 22/2/23, foi enfático no apoio à prática de todos à consecução de eficiência no combate à miséria. Com muita propriedade, registrou que a alimentação de um dia não garante a do dia seguinte.

Nessa campanha, mais uma da CNBB, vale lembrar, que mais importante do que o peixe é a arte de saber pescar. Ou seja, a pedagogia do aprendizado, da capacitação, da alfabetização, alimenta os fazeres dos alimentos de cada dia.

Também, o alimento espiritual. Deus é o pão que fortalece a esperança e a fé. Quem tem o Pai celeste no seu íntimo enxerga os que passam fome, que são os próximos que Ele mandou que amássemos como a nós mesmos. Irmãos em Cristo.

E aqui recorro ao verso de Fernando Pessoa, num dos transes do seu misticismo: "Quanto mais desço de mim / Mais subo em Deus."

É certo que o homem nunca perderá de vista o infinito, que é o tormento e o paradoxo do Finito, a sua condição temporal, a sua humilde contingência. Digo com Tertuliano: "A alma humana é naturalmente cristã."

Valha o tema e valha o lema: Foi para a vida e para a liberdade que Cristo nos libertou.

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt

 

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