OS SIGNIFICADOS

Diversidade do Eu

Como é difícil atravessar o conjunto de suposições à nossa frente!

FÁTIMA QUINTAS
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FÁTIMA QUINTAS
Publicado em 15/03/2023 às 7:00
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Melhor acreditar na beleza do diverso e acatar os inusitados reflexos - FOTO: DIVULGAÇÃO

As imagens se projetam no espelho da vida. Há tanta coisa desenhada na linha do pensamento que as versões me chegam a cada segundo. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro. As sintonias vão mudando em torno dos significados e significantes. Explode um conjunto intenso de variedades que fogem à percepção. Afinal, os minutos se somam à luz temporal. Saberei ordenar a harmonia dos fatos ou a própria desarmonia? Tudo resplandece em uma mesma intensidade.

Que direi de um rosto que sofre mutações diante das perspectivas? Nada permanece estático. Emerge um conjunto que cresce segundo a segundo. Urge acatar o que há de múltiplo na diversidade do Eu. Daí, a necessidade de ampliar a compreensão sem limite de finitude.

Como é difícil atravessar o conjunto de suposições à nossa frente! Vale realçar os pontos significativos que vão se acumulando na identidade. Difícil limitar o que há de excesso. Melhor aceitar os desafios que se acumulam.

Os rumos apresentam um segmento e reuni-los é tarefa distinta. São tão ricos os enigmas que os esconderijos do viver adquirem reflexos os mais diversos. Uma múltipla pluralidade.

Olho-me ao espelho e simbolicamente apreendo a multiplicidade do segundo. Não sei definir-me e fujo de anônimas traduções.

Melhor acreditar na beleza do diverso e acatar os inusitados reflexos. Não adianta antecipar o conjunto de visões que se apresentarão ao longo da caminhada. Necessário acompanhar os repetidos segmentos.
Na verdade, torna-se impossível traduzir enigmas que vão se acumulando. Variações significam o conjunto de um tempo que não se define. Abraçá-lo é a melhor forma de absorvê-lo. De nada adianta antecipar suposições.

A imaginação sabe redefinir os fatos. Ainda bem — forma de adequar o ritmo ontológico. Interrogações despontam a cada instante como se o cotidiano adquirisse uma versatilidade jamais traduzida. Bom lembrar que o universo não é uma ideia nossa.

Somos o resultado de um mistério jamais revelado. Vale reconhecer o tamanho do incógnito, ou seja, redesenhar a dimensão do subjetivo que ronda a identidade. Serei sempre uma indagação?

Quantas vezes esqueço-me na interioridade do indefinido! Haverá resposta? Absolutamente, não. Descubro fronteiras anônimas e imprecisas. Direi o quê? Não sei. Vale abraçar com afeto a lógica do inconsciente. E repetir o poeta na sua verdade irretocável: “O Universo não é uma ideia minha. /A minha ideia do universo é que é uma ideia minha./ Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.”

A beleza das palavras de Fernando Pessoa encerra qualquer abordagem. Melhor reelaborá-las minuto a minuto e retornar à sua potência intraduzível. “O Espelho reflete certo; não erra porque não pensa. /Pensar é essencialmente errar. / Errar é essencialmente estar cego e surdo”.

*Fátima Quintas é da Academia Pernambucana de Letras

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