OPINIÃO

A solução final

Não se pode comparar as ações de Israel contra o Hamas àquelas praticadas pelos nazistas de Hitler. As duas têm distintos determinantes políticos, econômicos e militares. São tragédias diferentes não só nos seus tempos históricos, mas também nos seus métodos e na sua escala.

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JORGE JATOBÁ

Publicado em 27/02/2024 às 10:28
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Esta foi a forma como Hitler se referiu à horrenda máquina da morte montada pelo nazismo para exterminar os judeus. Seis milhões deles e de outras minorias foram assassinados numa tragédia humanitária sem paralelo na história do planeta. A memória do Holocausto ainda emite uma profunda dor como numa ferida exposta à agressão animal. A indevida e inapropriada fala do Presidente Lula em infeliz entrevista coletiva na Etiópia provocou criticas contundentes do Governo de Israel, de judeus de todo o mundo, inclusive brasileiros, e de pessoas que sabem distinguir o significado deste evento único de outros genocídios praticados ao longo da História. O Julgamento de Nuremberg (1945-46) documentou para a eternidade a violência e crueldade dessa insanidade que foi minunciosamente planejada e executada para exterminar o povo judeu.
Os atos terroristas praticados, com mortos e reféns, pelo Hamas são inequivocamente condenáveis, merecendo contundente repulsa e Israel tem todo o direito de se defender. O que se observou, todavia, ao longo destes últimos quatro meses foram iniciativas militares eivadas de um sentimento de ódio e vingança que se projetaram muito além do dever de defender a integridade do território e as vidas israelenses. Neste processo milhares de palestinos não integrantes do Hamas, população civil formada na maioria por mulheres e crianças, foram mortos pelo poderio militar de Israel. Os relatos dessas ações têm chocado e preocupado sociedades e governos em todo o mundo. Destruição, morte e sofrimento atingem milhares de residentes de Gaza, agora encurralados em Rafah, aguardando com terror a ofensiva final para que as forças armadas de Israel dominem totalmente o território.
O objetivo do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, líder de um governo de extrema direita, é eliminar o Hamas. Essa decisão do Governo israelense foi anunciada urbi et orbi como uma solução definitiva. Todavia, nunca o fará como não foi possível fazê-lo quando a Alemanha Nazista e seus instrumentos de morte tentaram eliminar os judeus. Argumento que o Hamas não será eliminado, mas sairá fortalecido politicamente pelo ódio secular gerado do conflito e que será herdado por gerações. Os inúmeros confrontos impuseram perdas dolorosas às famílias, deixando milhares de órfãos. A morte de um terrorista estimula o surgimento de outros e a morte de civis inocentes pode levar muitos a se tornarem terroristas. Não haverá solução final para o Hamas como não houve para os judeus durante os terríveis anos da Segunda Guerra Mundial. O governo dos EUA, aliado incondicional de Israel, tem deixado isso claro para as lideranças políticas israelenses.
Os confrontos entre palestinos e judeus são milenares e continuarão enquanto não prevalecer o mínimo de bom senso e de boa vontade entre as lideranças civis e os braços militares. A criação de dois estados, um palestino e outro judeu, é rejeitada tanto pelo Hamas quanto pelo atual governo de Israel, mas é apoiada pela maioria dos países do mundo, inclusive o Brasil. Os palestinos almejam um Estado para si. Sem um Estado palestino não haverá paz. Conflitos intermitentes poderão ser cada vez mais sangrentos ao longo da História, constituindo-se em ameaça à paz mundial em decorrência do envolvimento de outras potências globais, como os EUA, e regionais, como o Irã.
Não se pode comparar as ações de Israel contra o Hamas àquelas praticadas pelos nazistas de Hitler. As duas têm distintos determinantes políticos, econômicos e militares. São tragédias diferentes não só nos seus tempos históricos, mas também nos seus métodos e na sua escala. A solução final não venceu no passado nem prevalecerá no futuro graças à imensa força que emerge dos seres humanos para sobreviver aos genocídios e as guerras.


Jorge Jatobá, economista

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