Cansaço dos inícios

Tenho a sensação de que as palavras me fogem quando começo a escrever. Quantas vezes procuro reuni-las e, de repente, o texto vai se modificando! Urge retê-las na mente para uma melhor elaboração. Fujo de perífrases porque todas modificam o que desejo explanar. Creio que o dito vale a pena ser registrado. Os ruídos da imaginação precisam ser ativados. Os momentos são muitos e cada um possui um viés diferente. Ainda bem.

Não sei o que vou explanar, porém, permito que as intenções me orientem no sentido de cada vocábulo. Difícil manejar os murmúrios. Importa engendrar o pensamento em uma ordem coesa e coerente. Tudo vale a pena quando o âmago interior confia nas possibilidades que se acumulam ao longo do tempo. Como é complexo expor o que vai dentro de mim! Somos múltiplos na capacidade de revisitar o nosso próprio silêncio.

Cada som se traduz ao longo da existência. Quantas vezes me admiro com a própria vontade! Tudo vai se renovando a cada minuto. Não adianta tentar administrar a vida. Seria absolutamente inviável. Vale realçar os ruídos que se apoderam da alma. Nada se torna fácil. Preciso, sim, acreditar no que ouço internamente. E, assim, caminham os passos de cada um, a depender do instante, da hora, do dia.

Desde pequena me apraz inventar fatos. Nasci acreditando em tudo. Ainda bem. Assim, consigo idealizar tantas viagens que conheço o mundo por entre os desejos interiores. De nada valem os medos antecipados. Serei sempre capaz de almejar novas perspectivas.

Através dos impulsos de cada dia, a mente vai alcançando o irreal. Será que existe o irreal ou somos capazes de ir além a qualquer instante? Como é difícil responder o que se passa no âmago. Melhor acreditar em todas as possibilidades. Assim, o íntimo atinge o que desejamos. O inviável acontece sempre e sempre. Almejo tantas coisas! Consigo, entretanto, inventá-las. Aí reside o poder de cada um. Desejo sempre alargar os horizontes, de modo a torná-los infinitos. Não escondo o ficcional porque almejo dilatar o real. Estarei errada? Creio que não.

Depende de cada um escutar os ruídos interiores. E nada mais valioso que aceitá-los.

Guardo-me na interioridade. Creio que todos os desejos são bem-vindos. As perspectivas se modificam a partir das intenções. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro. Que os impulsos aumentem para uma melhor adequação. Estarei sempre em busca de alguma coisa. Assim, o múltiplo cresce sem limites. Afago com intensidade o que emerge do íntimo. Urge que as mudanças se alonguem em um período indeterminado. Há um permanente ensejo de modificações. Afinal, viver não é fácil; porém, resulta da intenção de cada um. Quantas vezes estou cansada. O mistério integra o que há de íntimo. Somos tantos que acabamos sendo unos. Contradição? Jamais, apenas uma natural evolução dentro de cada persona. E as palavras vão surgindo... Que bom! Assim, cresço em humanismo. Nada melhor que a imensidão dos segundos...

Fátima Quinta, da Academia Pernambucana de Letras