OPINIÃO

Creche e Ensino Superior: dois extremos de uma caminhada

O acesso à creche é mais do que simplesmente cuidar da criança, mas um momento fundamental para o seu desenvolvimento integral, pois é nessa etapa da vida que as sinapses são formadas.

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MOZART NEVES RAMOS

Publicado em 17/04/2024 às 0:00 | Atualizado em 17/04/2024 às 15:10
Notícia

Na última semana, este JC publicou três matérias sobre o acesso à creche em Pernambuco e a qualidade do Ensino Superior. Na primeira matéria (JC - 09/04/2024), retrata os resultados de uma pesquisa publicada pela ONG Todos pela Educação usando dados produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra que, no estado de Pernambuco, mais de 136 mil crianças de 0 a 3 anos não têm acesso à creche. Quanto ao Ensino Superior, uma delas (JC - 10/04/2024) traz a boa notícia da posição de destaque das universidades públicas de Pernambuco no cenário nacional, enquanto a outra (JC - 10/04/2024) revela o papel inovador da Universidade Tiradentes (Unit) quanto ao uso da metodologia da aprendizagem baseada em projetos (do inglês PBL) na preparação de seus estudantes para o mundo do trabalho.

O acesso à creche é mais do que simplesmente cuidar da criança, mas um momento fundamental para o seu desenvolvimento integral, pois é nessa etapa da vida que as sinapses são formadas. Cuidar e educar representam um binômio que pode ser determinante para uma vida promissora no campo pessoal, social e profissional. James Heckman, prêmio Nobel de Economia em 2000, mostrou que, para cada dólar investido na primeira infância, o ganho pode chegar a US$ 7. Por isso, é digno de aplausos o esforço da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, de construir 240 novas creches - gerando cerca de 60 mil novas vagas nessa modalidade, no âmbito do programa Juntos pela Educação, mostrando a visão correta de trabalhar em regime de colaboração com os municípios - já que essa etapa é de responsabilidade direta das prefeituras - e assim reduzir o tamanho do déficit atual.

Quanto ao Ensino Superior, é gratificante saber que nossas universidades públicas continuam ocupando um lugar de destaque no cenário nacional. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por exemplo, já vem de longa data sendo uma das principais universidades do país no ensino, na pesquisa e na extensão. O desafio dessas universidades públicas - que se estende às demais do país - está em encontrar um modelo de financiamento adequado para que possam continuar a oferecer um ensino de qualidade. Isso passa pela autonomia universitária em consonância com o Art. 207 da Constituição Federal, seguindo o exemplo bem-sucedido das universidades estaduais de São Paulo.

Quanto à Unit, não é surpresa para mim, já que por 11 anos participei do Conselho de Administração da instituição e, assim, tive o privilégio de conhecer de perto a seriedade com que a família Uchôa trata a oferta educacional desde os seus primórdios, há mais de 60 anos, quando da criação do Colégio Tiradentes em Aracaju. São muito poucas as universidades particulares no Brasil que oferecem, por exemplo, cursos de mestrado e de doutorado de excelente nível de qualidade, como faz a Unit - muito além das exigências impostas pelo Ministério da Educação (MEC) às universidades particulares. É bom lembrar que os custos envolvidos nisso saem dos recursos do próprio Grupo Tiradentes, diferentemente do que ocorre nas universidades públicas que são mantidas pelo governo federal. Mas são esses cursos de boa qualidade que alimentam e inspiram projetos como o do PBL nos cursos de graduação da Unit.

Tais matérias trazem um alento importante para nosso estado, e penso que o programa Juntos pela Educação, em particular, pode ser bem mais do que um instrumento de financiamento para a educação pública, mas de mobilização pela causa da qualidade da educação em Pernambuco, da creche ao Ensino Superior, já que tais extremos representam pontos de partida para o sucesso escolar na Educação Básica e para o acesso qualificado ao mundo do trabalho, respectivamente.

Mozart Neves Ramos,  titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

 

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