OPINIÃO | Notícia

Os ecos se renovam

A cada dia me renovo e as perguntas são as mesmas. Estarei enganada? Acredito que não. Afinal, viver é difícil e exige o máximo de cautela. Que todos se unam na esperança de um pensar reflexivo

Por FÁTIMA QUINTAS Publicado em 15/05/2024 às 0:00 | Atualizado em 15/05/2024 às 11:40

O tempo vai passado enquanto o pensamento se desdobra. Jamais esqueço o passado; representa, sem dúvida, o meu legado. São tantas as recordações que me sinto plena, como se o agora simbolizasse a interioridade. Vou e volto em fração de minutos. O que guardo na lembrança jamais se dissolve. E os caminhos se cruzam em estradas diversas. Os ecos se renovam e eu os amo com paixão. Afinal, a existência corresponde a um retrato de tempos idos. De nada sei, e de tudo sei. Contradição? Absolutamente, não. Há inúmeros arremates no enredo da vida que assimilo a cada instante. A passagem pela estrada se faz com nítidas sensações. Emerge uma globalidade que flui permanentemente. Não sei quem sou e, no entanto, sei quase tudo, contradições que se alojam no íntimo em um arremate repleto de configurações. Afinal, a rotina ensina diariamente. Um vaivém pleno de segredos e de absolutas certezas. Oposições? Talvez, sim.

E os segredos se resguardam no âmago que me cabe. Acato-os em caixinhas invioláveis. Vou além e aquém. Quem sou eu, finalmente? Não sei e jamais saberei, ainda que vislumbre um domínio do passado. Mero engano. Penso tantas coisas e as repenso quase todas. Um redemoinho de subjetivações. A interioridade me consola e leva-me a ativar os segredos. Sinto-me carregada de interjeições. Sou e não sou. Quantas mudanças me invadem? Não ouso elucidá-las. Opto pela defesa de mim mesma. As divagações emergem assim como as interjeições. Um todo, pleno de pequenos e urgentes mistérios. O que direi adiante? Melhor resguardar-me das impossibilidades. Surjo e ressurjo em incontáveis minutos. Sinto-me incompleta, ainda que acredite na totalidade dos sonhos. Melhor aprisionar as ansiedades, mesmo que a luta do ego permaneça continuamente. Creio em tudo e em nada. As palavras fogem porque a intenção de revelar-me se ergue.

E o silêncio me alerta tal qual a melhor das pousadas. As minúcias ressurgem a todo instante. Afinal, sou incapaz de tantas elucidações. Guardo-me com receio da própria interjeição. Será que em mim habitam severas bilateralidades? Creio que sim. Ninguém escapa das dúvidas: emergem do interior. A percepção dos atos possui inúmeros contrastes. E, no entanto, acredito em tantas coisas... Será? Escondo-me de mim mesma; tal fato corresponde à simbiose do íntimo. As certezas emergem incompletas, por isso não sei quem sou. Vou e volto em uma múltipla estrada. Enxergo o mundo brilhando: porém, habitam-me tantas incoerências! O mundo é pequeno demais para que eu caiba dentro dele. Talvez o retraimento seja a melhor resposta. Opto por aceitar as interrogações; assim, estarei mais próxima dos sigilos. Vejo-me múltipla na capacidade de repensar o que digo. Aceito a renúncia das possíveis certezas. Que saberei dizer? Nada. A cada dia me renovo e as perguntas são as mesmas. Estarei enganada? Acredito que não. Afinal, viver é difícil e exige o máximo de cautela. Que todos se unam na esperança de um pensar reflexivo.

Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras-fquintas84@terra.com.br

 

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