Dá-lhe, Rigoni!
O lendário paranaense Luís Rigoni, de quem eu era fã ardoroso, costumava correr descontraído em último durante a maior parte das provas - no caso, como convém, "esperando atrás."

Telefonema dos advogados Pedro Malheiros e Chico perguntando quem foi Luís Rigoni, de quem eu falo tanto. Há uma tendência natural das pessoas para acharem que somente médicos, advogados, engenheiros, arquitetos e outros profissionais liberais são talentosos e cidadãos competentes, dignos de nota. E desprezam as virtudes imensas dos artistas plásticos, atletas, jogadores de futebol, vôlei, basquete, lutadores de boxe, jiu-jitsu e jóqueis.
Corrida de cavalo, por exemplo, é um mundo fascinante e misterioso. Não é coisa pra amador nem qualquer imortal da APL - cuidado pra nossa Academia não virar sucursal da Universidade Federal de Pernambuco! O puro-sangue inglês, cujo pai é o extraordinário cavalo árabe, e a mãe, égua de linhagem nobre, o treinador e os ginetes são criaturas especiais que exigem coragem, raça, inteligência e competência para que vençam na vida.
No seu livro "Cavalos de Corridas - Uma Alegria Eterna", Topbooks / 2002, meu querido amigo Sérgio Barcellos, o homem que mais entende de puro-sangue no Brasil, quase esgota o assunto. Só não esgota mesmo porque o tema, além de fantástico, é complexo.
Para o leitor ter uma ideia, Sérgio fala sobre os maiores e mais importantes criadores, inclusive a mexicana Maria Félix, e sobre reprodutores, treinadores e grandes prêmios do mundo. De Juvenal Machado da Silva, Sérgio diz que, durante os percursos de fundo e meio-fundo, ele se comporta como o último dos gênios na arte da condução de cavalos de corrida em atividade no turfe brasileiro. Juvenal já deixou de correr. Hoje vive em sua fazenda, criando gado. E acrescenta: "sua percepção inata de ritmo está no nível dos maiores profissionais das pistas, em qualquer época, e constitui um prazer quase sádico vê-lo ardilosamente confundir os rivais nas provas de distância."
O lendário paranaense Luís Rigoni, de quem eu era fã ardoroso, costumava correr descontraído em último durante a maior parte das provas - no caso, como convém, "esperando atrás." Ao contornar a curva final e entrar na reta de chegada, ele tocava o cavalo, sem chicoteá-lo, usando o chicote apenas para dizer ao animal o ritmo em que ele deveria galopar até o "fotochart", como se toca um instrumento de cordas. Daí o seu apelido de "o homem do violino." E as arquibancadas vibrando: "Dá-lhe, Rigoni! Dá-lhe, Rigoni!" até cruzar o disco em primeiro. Difícil dizer quem foi maior: Rigoni, Juvenal ou Jorge Ricardo (Ricardinho).
Arthur Carvalho, do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro-RJ