Álcool na adolescência, um risco à saúde feminina
É fundamental ações preventivas no ambiente familiar, escolar e sociais, para promoção do conhecimento, redes de apoio e escuta...

O álcool é a substância mais usada entre as mulheres no período de adolescência, por ser uma droga socialmente aceita e ofertada com maior facilidade. Este uso abusivo está ligado a vários fatores de risco e vulnerabilidade, que por vezes passam despercebidos ou escondido pelo medo do estigma e preconceitos.
Na adolescência, o uso de álcool leva a vários prejuízos, como queda no rendimento escolar, perdas no desenvolvimento das habilidades sociais, afastamento da família e isolamento.
Pesquisas apontam o aumento cada vez maior do público feminino ao uso do álcool, especialmente na faixa etária de 18 a 24 anos, subindo para 14% nos últimos anos. Mas esse crescimento também é observado em outras faixas etárias, até mesmo em mulheres idosas.
É preciso considerar alguns fatores importantes para o diagnóstico da dependência alcoólica e que são imprescindíveis para o apoio e possível ajuda. A escuta, sem dúvida, pode ser o grande aliado para a confiança e dessa forma, abertura e aceitação do alcoolismo.
Entre os indicadores de dependência estão a tolerância, que ocorre quando é necessário beber cada vez mais e em períodos mais curtos, isolamento da convivência social e os sintomas físicos da abstinência, que acontecem com a falta do álcool no organismo.
Como qualquer dependência, a alcoólica traz sérias consequências, como o surgimento de doenças cardíacas, hepatites e cirrose. Não é por acaso que o número de mortes de mulheres por alcoolismo também vem crescendo em relação ao sexo masculino.
Para agravar a situação, comportamentos como medo, vergonha, depressão, aumento da ansiedade e tentativas de suicídio surgem dentro dos aspectos psicológicos da mulher dependente do álcool. Em alguns casos, pode ainda ocorrer consumo simultâneo de outras drogas ou substâncias, como o uso descontrolados de medicamentos.
Mas é possível construir uma jornada de recuperação. Mulheres alcoólicas de Alcoólicos Anônimos têm encontrado acolhimento e sobriedade em reuniões de composição feminina. A iniciativa tem crescido e acolhido mulheres de todas as partes do país, por meio de mais de 60 reuniões presenciais e online.
Vale salientar que há fatores de riscos importantes para que a dependência aconteça. Entre eles estão a experimentação precoce na adolescência, muitas vezes impulsionada pela pressão dos grupos sociais pertencente, falta de suporte familiar ou, até mesmo, presenciar o uso abusivo dos pais. No caso das mulheres, é preciso ainda considerar a violência doméstica, sexual e psicológica, que muitas vivenciam por sua condição de gênero.
Hoje, também é necessário um olhar bastante atento às mídias sociais, que tem funcionado como fonte de incentivo por parte dos influenciadores digitais. Essa influência chega ao universo feminino com maior impacto, como modelos a serem seguidos e sugerindo falso empoderamento da condição feminina.
Diante deste cenário, é fundamental ações preventivas no ambiente familiar, escolar e sociais, para promoção do conhecimento, redes de apoio e escuta, visando políticas sérias e informativas acerca do alcoolismo e sua verdadeira realidade.
Rita de Cássia , psicóloga clínica e hospitalar, especializando em Neuropsicologia, e amiga de Alcoólicos Anônimos.