OPINIÃO

O ouro do Brasil é preto e feminino

Essas medalhas não são apenas conquistas individuais; elas representam a vitória de uma luta coletiva e o avanço de uma sociedade

Cadastrado por

JÕ MAZZAROLO

Publicado em 10/08/2024 às 0:00 | Atualizado em 10/08/2024 às 6:13
Rebeca Andrade conquistou medalha de ouro e sagrou-se a maior atleta do País nas Olimpíadas - GABRIEL BOUYS / AFP

As Olimpíadas de Paris ainda não terminaram, mas é tempo de celebrar nossas duas medalhas de Ouro. E, com todo o respeito ao nosso idioma, que defendo, estudei e ainda estudo, o nosso ouro mudou: é palavra feminina e o dourado é preto.

Usei o verbo celebrar porque é mais do que comemorar. É lembrar de histórias de vida: de exercícios solitários, de você com você, de treinos que duram horas, de milhares de repetições até chegar à excelência. De renúncias, de desafios, de lágrimas e de vitórias.

As Olimpíadas de Paris marcam um momento histórico para o Brasil, até agora, com estas duas medalhas de ouro conquistadas por mulheres negras que brilharam nas competições. Beatriz Souza e Rebeca Andrade (usei a ordem alfabética), representam não apenas a excelência esportiva, mas também a força e a determinação de nós, mulheres brasileiras, em um cenário muitas vezes marcado pela desigualdade. Suas conquistas são um tributo ao trabalho árduo, à resiliência e à paixão.

Nossas duas medalhas de ouro, junto com todas as demais mulheres que já conquistaram suas medalhas e, as que ainda podem conquistar, são inspiração: elas têm o mérito de perseguir um sonho. Sonho que pode ser da maioria brasileira: de acordo com o censo de 2022, somamos: 194.548.325 mulheres (51,48%) e 98.532.431 (48,52%) homens.

Essa vitória do ouro não só coloca o Brasil em destaque no cenário internacional, mas também reforça a importância de dar visibilidade a atletas de todas as origens, especialmente aquelas que enfrentam obstáculos significativos para se afirmar no esporte. Sem esquecer das equipes técnicas que apoiam, incentivam e estão sempre junto. Mas o esforço é individual ou da equipe, quando o esporte é em grupo. E, as centenas de horas de treino são julgadas em apresentações que podem durar horas ou apenas alguns minutos.

Essas medalhas de ouro em Paris não são apenas conquistas individuais; elas representam a vitória de uma luta coletiva e o avanço de uma sociedade que busca por mais equidade. As pesquisas comprovam que as empresas com lideranças femininas em altos cargos alcançam resultados até 20% melhores, de acordo com o Women in Business and Management: The Business Case for Change, desenvolvido pela Organização Internacional do

Trabalho, que comparou 70 mil empresas de 13 países. Os efeitos positivos são sentidos principalmente em produtividade, rentabilidade, criatividade e inovação.

O brilho dessas duas mulheres negras no pódio olímpico ecoa além do esporte, trazendo à tona uma discussão sobre representatividade, valorização da cultura, da diversidade e de identidade. Assim, enquanto celebramos essas conquistas, olhamos para um futuro em que mais mulheres, especialmente aquelas em situações similares, possam sonhar alto e se ver no pódio, como essas grandiosas campeãs.

Jô Mazzarolo, consultora em gestão e comunicação

 

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