Fachos de esperança na educação

É verdade que melhoramos em relação a 2021, especialmente para os anos iniciais do EF. Todavia, não foi nada que nos permitisse retornar a 2019

Publicado em 16/09/2024 às 5:00

Os últimos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), apresentados pelo Ministério da Educação (MEC), mostraram o país estagnado na educação, olhandoa média do conjunto das redes públicas de ensino. Importante ressaltar que média é sempre algo perigoso no que se refere ao cuidado da interpretação de resultados. Tomando-se assim os devidos cuidados, observa-se que o país ainda não retornou aos patamares de 2019 – antes da pandemia, em termos de aprendizagem escolar. Para justificar esta posição apresentamos a seguir os resultados do exame do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que mede os níveis de proficiência escolar em língua portuguesa e em matemática.

É verdade que melhoramos em relação a 2021, especialmente para os anos iniciais do Ensino Fundamental (EF). Todavia, não foi nada que nos permitisse retornar a 2019. Senão,vejamos: as proficiências médias no SAEB em língua portuguesa no 5° ano do EF foram 214,64, 208,09 e 213,89 pontos, enquanto as proficiências em matemática foram 227,88, 216,92 e 224,83 pontos para os respectivos anos de 2019, 2021 e 2023. Como podemos constatar, ainda não retornamos aos resultados de 2019 de antes da pandemia, que já eram pífios.

Por outro lado, colocando uma lupa nos municípios e estados, encontramos alguns fachos de esperança na educação, redes que apresentaram melhoras surpreendentes em relação a 2021 e 2019. Isso foi muito bem retratado pela Priscila Cruz – presidente executiva do Todos pela Educação em seu artigo “Os grandes estão derrubando a educação”, publicado na Folha de São Paulo de 25/08/2024. Lá, ela mostra que os estados estão remando em diferentes direções: alguns avançaram, outros retroagiram. Ela cita o caso da queda generalizada no Ensino Médio (EM) em todos os estados da região Sudeste – a mais rica da Federação, ao tempo em que estados como Pará, Amapá e Piauí avançaram significativamente, em especial o estado do Pará – a melhor notícia deste último IDEB.

Mas, olhando para o nosso estado, podemos dizer que temos também a nossa Sobral – referência cearense na educação brasileira. Trata-se do município de Panelas – distante 178 km do Recife - com uma população de pouco mais de 26 mil pessoas e um PIB per capita de apenas R$ 8.683. Esse pequeno município pernambucano sempre se destacou na educação, e com o IDEB de 2023 não foi diferente; obteve uma nota de 7,8 frente àquela de 7,6 em 2019. Para se ter uma ideia comparativa, o IDEB de 2023 do Recife, para os anos iniciais do EF, foi 5,5.

Custódia, no Sertão do estado, foi outro município que se destacou nesta última edição do IDEB, com um crescimento expressivo de 2019 para 2023 de 6,3 para 8,6 – a maior nota no IDEB de 2023 em Pernambuco.
Mas Pernambuco tem outros fachos de esperança, além de Panelas e Custódia; são os municípios de Bonito, Sairé e Saloá, no Agreste; Quixaba, no Sertão; e Salgadinho, na Mata Norte. O governo do estado deveria tomar conhecimento do que essas pequenas cidades estão fazendo para alcançar resultados tão expressivos e estruturar uma política de colaboração entre elas e aquelas de baixo desempenho na perspectiva de reduzir desigualdades e fortalecer o regime de colaboração intermunicipal.

Concluo sempre afirmando que podemos aprender uns com os outros, fortalecendo o espírito de colaboração mútuo, e esse foi um dos caminhos que levaram o estado do Ceará a ser uma referência nacional na alfabetização de crianças na idade certa que repercute fortemente nas demais etapas escolares.

Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

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