Descarregando seus defuntos
Quando uruguaios e argentinos vêm jogar futebol aqui, principalmente no Rio, escolhem Copacabana como alvo preferido para descarregar seus traumas.
Todas as vezes que os argentinos e uruguaios fazem suas molecagens com o Brasil e os brasileiros, nos chamando de macaquitos ou oriundos das selvas, esquecendo-se de terem apoiado os nazistas e fascistas durante a Segunda Guerra, de terem instaurado a ditadura militar que torturou, prendeu e matou no Cone-Sul, e o peronismo corrupto eu lembro do extraordinário conto de Jorge Amado, grande romancista e grande figura humana "De como o mulato Porciúncula descarregou seu defunto."
E me pergunto, quando os argentinos e uruguaios vão descarregar e sepultar definitivamente seus defuntos. Nem só de suculentos churrascos e nostálgicos tangos fazem uma nação. Quando os milicos argentinos provocaram a Guerra das Malvinas tentando desviar a atenção de sua sanguinária ditadura, a Dama de Ferro mandou um torpedo - somente um - no Encouraçado Almirante Belgrano, orgulho da Marinha Portenha, partindo seu casco enferrujado pelo meio causando mais de 300 vítimas entre marinheiros. Assim findou a batalha de Itararé (aquela que não houve) em dois dias e os galegos grumetes britânicos que lotavam o transatlântico Queen Mary para lutar nas Ilhas, regressaram felizes e contentes, bebericando uísque escocês na borda das piscinas da luxuosa embarcação.
Natural que feridas como essas são difíceis de cicatrizar. Traumas ficam registrados na memória das republiquetas de banana. Não tem gol de mão de Maradona (de Deus?) ou de Messi que apague... Daí os pontapés que sempre deram nos melhores e mais frágeis dos nossos craques, como Ademir Menezes e Jair Rosa Pinto e que não tinham coragem de dar em Zezé Procópio, Ely do Amparo e Heleno de Freitas. Daí a criação do cartão amarelo para punir "los hermanos" depois da Copa de 66 quando eles cuspiram no rosto de um jogador inglês em campo, defronte da tribuna de honra dos monarcas britânicos. Ocasião que Alfred Ramisey, treinador inglês, declarou, jamais voltar a enfrentar "aqueles animais." Dai também o celebre e covarde tapa de Obdulio Varela na cara de Bigode em pleno Maracanã, em 50.
Quando uruguaios e argentinos vêm jogar futebol aqui, principalmente no Rio, escolhem Copacabana como alvo preferido para descarregar seus traumas complexos e recalques porque sabem que a praia de Copacabana mora em nosso coração.
Arthur Carvalho, advogado e Jornalista.