Sérgio Gondim: "A mentira prevalecerá"

Como é bonita a democracia, ouvir as urnas, respeitar e tentar entender os motivos para as decisões da maioria, aprender, diagnosticar e aprimorar

Publicado em 15/11/2024 às 19:03
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A performance dos candidatos nos debates pré-eleitorais é analisada sob vários aspectos. Os eleitores ficam atentos aos projetos, à desenvoltura, simpatia, segurança, ao passado, à coerência e agora passou a existir um placar para verificar quem vence em número de mentiras. Em um dos últimos divulgados pela imprensa, o vencedor no quesito mentiras comprovadas, também venceu nas urnas depois.

Na área médica sempre houve anúncios de curas milagrosas falsas, mas agora se disseminaram. Imagine uma pessoa em quem se confia, inclusive profissionais da área, um colega de infância e outro do trabalho, uma celebridade, uma pessoa admirada, disparando, ao mesmo tempo, canhões com “novidades” sobre tratamentos sem base em estudos consistentes, mas chegando e sendo repassadas em massa.

É sabido que recebidas dessa forma assumem caráter de verdade absoluta no cérebro de um percentual significativo de pessoas, gerando falsas esperanças e dificultando as prescrições aprovadas nos consensos e congressos internacionais, baseadas em evidências científicas.

O que pensar de igrejas que orientam a melhor forma de extrair o dinheiro dos fiéis como caminho indispensável para obtenção de graças almejadas, como se o seu Deus fosse, além de corrupto, impiedoso, pois ameaça e não dispensa o pagamento nem por parte dos mais pobres.

Existem os que mentem se dizendo defensores da família, mas na calada da noite movimentam o mercado de profissionais do sexo, além de combinar “viagens de negócios” com o (a) amante para encontros sem riscos.

Nada a opinar sobre as escolhas dos casais, mas traindo a noite, é falso ranger os dentes durante o dia dizendo raivosamente ser defensor da família. Bem que poderia só trair, sem mentir para a coletividade. O mesmo para os que pregam a liberdade e, também na calada da noite, sonham e articulam contra ela, simpatizam com a tortura e com a morte de quem discordar.

Como é bonita a democracia, ouvir a voz das urnas, respeitar e tentar entender os motivos para as decisões da maioria, aprender, diagnosticar e aprimorar o processo para impedir os milhões em troca de votos.

Desenvolver mecanismos para evitar a difusão de mentiras deslavadas, com a técnica que os mentirosos sabem aplicar para conquistar votos. Pode-se até entender que promessas impossíveis sejam feitas e cabe ao eleitor acreditar e votar ou não.

É diferente de falsear verdades históricas, negar provas cabais, como se fosse o caso da esposa flagrada pelo marido com outro na cama e, sem alternativa, argumenta: não sou eu não! E segue negando até hoje, mantendo o casamento, mesmo sendo óbvio quem é o corno.

Quem nunca mentiu, uma mentirinha inocente ou até santa? Certa ocasião uma religiosa foi hospitalizada e ao final perguntou sobre honorários. De tão simpática e santa, foram dispensados, mas perguntou o que diria à secretária quando fosse ao consultório.

Diga que não houve visita hospitalar. Doutor, o senhor está pedindo para que eu, uma freira, minta? De imediato completou: mas isso é o que se chama de uma mentirinha santa, não é! E economizou.

A mentirinha santa vale e é diferente do mentiroso profissional que faz da mentira o caminho para derrubar e ascender. É fácil identificá-lo e não ser bobo a ponto de cair no golpe, bloquear como se bloqueia um número de telefone que claramente pretende roubar.

Segundo João, a verdade libertará, mas parece que é a mentira que está prevalecendo. Dita as regras e faz sonhar com o paraíso, estando no caminho do inferno.

Sérgio Gondim, médico

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