Gustavo Henrique de Brito Alves Freire: Meu amigo Beto, meu presidente Simonetti.
Neste artigo, Gustavo Henrique de Brito Alves Freire faz uma homenagem ao amigo Beto Simonetti, empossado presidente da OAB em 2022
De acordo com Pitágoras, os amigos têm tudo em comum e a amizade é sinônimo de igualdade. Por isso mesmo há que se discordar da frase de Mário Quintana, para quem os amigos são os nossos chatos prediletos, e da sentença de Carlos Drummond, segundo quem a amizade é uma forma de isolar-se da humanidade cultivando algumas pessoas.
Empossado no começo de 2022 na Presidência Nacional da OAB, a mais influente instituição civil do País, em votação assemblear ou congressual, logo, não indireta, Beto Simonetti é desses personagens brechtianos, os imprescindíveis, pelo seu pendor em direção à diplomacia presidencial.
Conceito nascido em solo norte-americano com Theodore Roosevelt, a diploma presidencial se espalhou para outros Países, tendo, no Brasil sido ideia estranha nas primeiras quatro décadas da República, o que só mudou após a eleição do sociólogo Fernando Henrique Cardoso para a Presidência em 1995.
Na doutrina, a obra de Sérgio Danese, expoente no assunto, explica que, na diplomacia de cúpula, o governante investe-se de uma participação pessoal, ativa e efetiva na concepção e na execução da política externa. Refuta a condução institucional e protocolar, escolhendo uma atividade polifacetada, sendo exemplos o acionamento para dirimir dúvidas e arbitrar diferenças.
É rigorosamente assim como defino o papel de Simonetti à frente do Sistema OAB. Tecelão e ourives de uma trajetória de escuta ativa e aproximação de contrários, que teve início muito antes da sua eleição ao munus de bastonário, ele é expressão, na entidade, sem dúvidas, da diplomacia presidencial.
Recordo quando, ainda no pico de contágios da pandemia do coronavírus, em 2020, Simonetti, Coordenador Nacional do Exame de Ordem Unificado, maior concurso público do mundo, suportou incompreensões que, posso garantir, não é qualquer um que suporta, mesmo no contexto de uma crise sanitária mundial. Jamais encontrei alguém com tamanha paciência. Sua resiliência é admirável.
Do discurso de posse que fez, destaco sempre um trecho em especial: “O que nos une é o dia a dia das petições, dos escritórios, dos fóruns, do estudo e do aperfeiçoamento das leis e do sistema de Justiça. O que nos une é a defesa das prerrogativas, é a busca do fim dos abusos de autoridade sistemáticos no Brasil. É, definitivamente, a ampliação do acesso á Justiça. Nos une, por igual, a defesa de uma sociedade justa, fraterna e solidária, a edificação da democracia, a prevalência do Estado de Direito, o respeito aos valores constitucionais”.
Já as realizações no cargo de Presidente são irresumíveis. Entre elas, a garantia da definição dos honorários consoante o novo Código de Processo Civil e a mais audaciosa alteração do Estatuto de 1994 (a Lei 8.906), sem mencionar um esforço notável de interiorização da Ordem.
Em um universo tão questionador como o da advocacia, hoje também infelizmente cindida em espectros ideológicos díspares, Simonetti carrega consigo a árdua tarefa de ser um mediador, de buscar o equilíbrio, sem descuidar dos fins legais mais amplos da OAB, que, afinal, não se exaure nos direitos dos seus inscritos, contemplando, igualmente, os seus deveres.
O saldo da passagem deste ilustre filho da região norte pelo mais alto cargo de representação da advocacia brasileira – ainda em percurso – é inegavelmente positivo. Que não se confunda diálogo com fraqueza, nem ponderação com hesitação em agir, nem a ausência de palavras duras com omissão. Espera-se do líder moderno que estimule o melhor das pessoas e não o seu pior. Simonetti é sabedor disso.
Agora que se dirige à conclusão da sua legislatura, o personagem destino das presentes linhas se submete ao julgamento da história, que há de abraçá-lo como líder da temperança, a quem não seduz a ânsia de engajamentos e curtidas nas redes sociais, com o desgaste das relações, mas o fortalecimento da cidadania. Enquanto seu Assessor, presto reconhecimento ao amigo Beto e retribuo ao líder Simonetti a confiança, a ele dedicando esta bela citação de John C. Maxwell: “Deve-se medir um líder pelo tamanho dos desafios que ele assume, pois sempre procurará algo do próprio tamanho”. Gratidão, Presidente.
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado