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O mundo mudou para pior

Resta à sociedade civil norte-americana e à comunidade das nações se organizar, resistir e propor ações alternativas àquelas impostas por Trump.

Por JORGE JATOBÁ Publicado em 11/02/2025 às 0:00 | Atualizado em 11/02/2025 às 10:56

Com a ascensão de Trump ao poder pela via democrática, como o foi Hitler no inicio dos anos trinta do século passado, o mundo do ponto de vista político, econômico, ambiental e social mudou para pior. Os Estados Unidos estão se isolando e voltando a ser imperialista como o foi entre o final do Século XIX e início do Século XX. Um estilo imortalizado na figura de Theodore Roosevelt. Mudar para pior significa perdas de bem estar econômico, aumento da insegurança geopolítica, agravamento das desigualdades sociais e regionais em escala global, retrocesso nas conquistas dos direitos humanos e avanços indesejáveis do negacionismo ambiental . Tem-se agora um populista de extrema direita na Casa Branca onde bilionários, como ele e Elon Musk, entre outros, ditam ordens que impactam negativamente o país e o resto do mundo. Analisemos algumas das medidas e ameaças.

A imposição de tarifas por razões econômicas e não-econômicas deflagra uma guerra comercial sem vencedores. Não faço, porque não cabe, comparações com o Mercantilismo ou com o Neo-Mercantilismo. A Teoria do Comércio Internacional é clara. Se houver uma escalada protecionista à base de imposição de tarifas, as perdas de bem estar em escala planetária são substantivas. Entre as consequências estão a inflação, o desemprego e a disrupção das cadeias nacionais e globais de valor. Nos Estados Unidos, como no resto do mundo, haverá um choque de preços devido à imposição das tarifas, elevando o patamar da inflação e distorcendo os preços relativos.

As deportações de imigrantes ilegais são uma questão de politica interna dos EUA sobre a qual não faço nenhum juízo de valor, mas do ponto de vista econômico levará a uma pressão inflacionária no mercado de trabalho norte-americano. Os empregos na baixa hierarquia ocupacional antes ocupados por esses migrantes serão agora preenchidos por cidadãos americanos a um custo maior. O desrespeito aos direitos humanos na busca, captura e deportação de imigrantes merece críticas de governos e sociedade civil dos países de origem desses imigrantes.

A desestruturação e encerramento das atividades da USAID -o braço humanitário e de assistência social do governo dos EUA -vai comprometer o acesso de milhões de pessoas em todos os continentes, mas sobretudo na África, a programas de vacinação, proteção à saúde, inclusão social e nutrição. Isso elevará as taxas de morbidade e mortalidade não só de crianças e adolescentes, mas de adultos nos rincões de maior vulnerabilidade social do planeta bem como acentuará as desigualdades sociais pré-existentes. As razões para tais iniciativas , aparentemente fiscais, são, de fato, ideológicas. São governantes que, além da falta de solidariedade, consideram as forças de mercado suficientes para resolver todas as iniquidades sociais e para reduzir a pobreza.

O perdão aos responsáveis pela tentativa de golpe de estado no dia 6 de janeiro de 2021 e a perseguição a procuradores e policiais federais que conduziram as investigações sobre o lamentável episódio, são vergonhosas. Constitui-se em desrespeito ao sistema de justiça dos EUA, sendo também arbitrária ao demitir pessoas como ato de vingança. Foram decisões tomadas por um Presidente que tomou posse na condição de condenado por um crime pelo qual não teve de pagar a pena devido ao cargo que conquistou pelo voto.

O isolamento dos EUA manifesta-se pelo afastamento das instituições multilaterais que se materializaram pela saída do acordo climático de Paris, da Organização Mundial da Saúde e do Conselho das Nações Unidas sobre Direitos Humanos. As razões são baseadas no negacionismo sobre as mudanças climáticas e por adversidade aos temas de gênero, raça e etnia, pautadas pela extrema direita.

A visão imperialista manifesta-se pelas declarações ameaçadoras, típicas de um bufão, sobre o Canadá, México, Canal do Panamá, e mais recentemente, sobre a Faixa de Gaza, A observação desastrosa sobre Gaza não veio de um Presidente da maior potência econômica, militar e política do planeta, mas de um especulador imobiliário que insinuou construir resorts sobre destroços e cadáveres, expulsando a remanescente e resistente população local para territórios estrangeiros.

Por essas razões econômicas, políticas, sociais e ambientais o mundo mudou, infelizmente, para pior. Resta à sociedade civil norte-americana e à comunidade das nações se organizar, resistir e propor ações alternativas àquelas impostas por Trump. Em nome de um mundo melhor!

Jorge Jatobá, doutor em economia, professor titular da UFPE, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco. Sócio da CEPLAN- Consultoria Econômica e Planejamento

 

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