Um reinado de 70 anos chega ao seu final com o falecimento da rainha Elizabeth II, da Inglaterra. Os britânicos perdem uma referência que atravessou gerações como figura de estabilidade e confiança, e o mundo deixa de ter a personagem emblemática que testemunhou diversas mudanças históricas no exercício do trono, ao longo desse período.
Uma monarca que parecia não se desgastar, nem ver arranhada a imagem da monarquia, com a passagem do tempo e os desafios impostos por severas transformações, tanto em seu país, quanto nos demais integrantes da coroa ou no resto do planeta.
A morte de Elizabeth II traz para os europeus, e não apenas para os ingleses, a recordação da superação da crise de uma Grande Guerra, nos anos 1950 do século passado.
E acontece, em triste coincidência, no instante em que um conflito de mais de seis meses na Ucrânia, com a invasão da Rússia, lança o continente na insegurança econômica e política, novamente.
Talvez o seu reinado não significasse mais que uma representação. No entanto, essa representação é profundamente acoplada ao imaginário do povo britânico, e de certa forma, de todo cidadão europeu.
Em 70 anos, a civilização global se instaurou, num processo em que se fundiram avanços tecnológicos, integrações culturais, globalização econômica e mudanças geopolíticas.
O papel da Rainha Elizabeth II
O papel da rainha pode não ter sido determinante em muita coisa. Mas nas primeiras décadas do reinado, lá atrás, sua firmeza pode ter feito diferença.
Além disso, a imagem transmitida pela monarca serena em seu lugar, e até discreta, demonstrando naturalidade na apreensão de fatos e visões mutantes, aparecia como uma espécie de âncora na história.
Com a sua morte, a força da instabilidade da história retorna com vigor à consciência do mundo, embora o mundo jamais tenha deixado de ser instável.
O vácuo que deixa a Rainha Elizabeth II
O lugar vago no trono também aponta para um sério problema em praticamente todas as nações, hoje: a falta de lideranças exemplares, que inspirem confiança, e não, desconfiança, intriga e animosidade.
A própria sucessão britânica ocorre sob os ombros de um personagem distante do respeito adquirido por Elizabeth II – Charles assume o reino aos 73 anos, sem o crédito acumulado pela mãe, que partiu aos 96.
O legado da rainha se encerra com a posse da nova primeira-ministra, Liz Truss, nomeada por Elizabeth em seu último compromisso público, excepcionalmente na Escócia, por causa dos problemas agravados na saúde.
A mais longeva titular do poder na Inglaterra e no mundo, a rainha Elizabeth II já faz falta. Popular entre o seu povo por gerações seguidas e admirada internacionalmente, sem atitudes forçadas de cunho populista, a vacância no trono tem tudo para ser uma oportunidade para o resgate da preocupação do mundo com a formação de líderes à altura da complexidade das questões atuais.
E o foco se volta para Liz Truss, no comando de uma nação que não deverá se abster de atuar na crise que parece estar só começando na Europa.
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