Apesar de registrar a quinta alta consecutiva, o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil apresenta sintomas de estagnação, com crescimento menor do que o previsto aparecendo para este ano, e ainda mais baixo para 2023. A alta de 0,4% entre o segundo e o terceiro trimestre estava sendo esperada no patamar de 0,6%. A boa notícia é que o nível de atividade econômica superou o registrado em 2014, antes da recessão, demonstrando recuperação das perdas na pandemia, depois de 2020. Mesmo assim, a economia brasileira segue no ritmo de “voo de galinha”, como se diz, sem alcançar altitude nem sustentabilidade.
A desaceleração é visível, se comparados os índices positivos de 1,3% e 1%, respectivamente, do primeiro e do segundo trimestre deste ano, com o do terceiro trimestre. Em relação ao mesmo período do ano passado, o aumento é de 3,6%. O IBGE revisou o PIB de 2021 para um crescimento de 5% - o valor anterior divulgado havia sido de 4,6%. As previsões do Banco Central para 2022 e 2023 reforçam a perspectiva de estagnação, chegando a apenas 2,8% em 2022, e despencando para 0,7% no ano que vem. Seja quem for o ministro escolhido por Lula para a gestão econômica, pode-se afirmar que o horizonte não é dos melhores para o início do mandato do novo governo.
O recuo de 0,1% no comércio, no terceiro trimestre, acendeu o alerta para o período natalino, sempre associado a uma expectativa de aquecimento na produção e nas vendas. O resultado aquém do esperado na Black Friday corrobora a tendência de retração, que também pode ser vista pelo prisma do endividamento das famílias, corroendo o poder aquisitivo. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, quase 80% das famílias possuem dívidas, e a inadimplência já passa de 30% no país. Com tal cenário, o dinamismo da economia depende de uma estabilização das contas privadas, tanto quanto das contas públicas, a partir de janeiro.
A necessidade de crescimento elevado por um período longo é realçada pelo fato de o nível de atividade econômica ter atingido o pico em 26 anos – com o país enfrentando enorme crise social, com muita gente passando fome, desemprego nas nuvens e o já mencionado endividamento. Para se reduzir a desigualdade, e dar os primeiros passos em direção a uma nação com mais justiça social, o próximo governo federal, em articulação com os governos estaduais, precisa ajustar políticas de desenvolvimento que estimulem a estrutura da economia brasileira.
Importante recordar que a recuperação do ano passado se fez em cima de um patamar pressionado, em 2020, em ano atípico e de profunda crise causada pela pandemia de Covid. Ainda sob os efeitos da desarrumação pandêmica, a reativação ainda tem um longo caminho para ganhar a escala necessária às demandas nacionais. O ritmo de crescimento do PIB precisa aumentar e se manter alto, nos próximos anos, para o Brasil deixar a estagnação para trás se encontrar com o futuro almejado pela população.
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