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Violência de radicais expõe a intolerância que se desenvolve através do ódio patológico contra outras pessoas

O uso de armas e bombas para gerar um ambiente propício ao golpe no Brasil é um sinal contemporâneo do crescimento da violência associada à intolerância e ao ódio nutrido contra outras pessoas, sob justificativas ideológicas que não se restringem ao cenário político nacional

JC
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Publicado em 26/12/2022 às 6:00
EVARISTO SA / AFP
Manifestantes bolsonaristas promovem noite de vandalismo em Brasília no dia da diplomação de Lula. Numa exceção nacional, também foi possível ver os vândalos depredando e tocando fogo aleatoriamente em automóveis particulares estacionados nas ruas - FOTO: EVARISTO SA / AFP

As manifestações golpistas no Brasil ultrapassaram os limites da civilidade e das leis, ao atacarem prédios públicos e incendiarem veículos na capital federal, no dia da diplomação do presidente da República e do vice-presidente eleitos em outubro. Nos últimos dias, uma ameaça de atentado por bomba no acesso ao Aeroporto de Brasília teve a confissão do suspeito, um empresário que declarou querer fortalecer os grupos bolsonaristas acampados na frente dos quarteis em vários pontos do país. Os manifestantes desejam a anulação da eleição e a continuidade de Jair Bolsonaro no Planalto, à revelia do processo democrático.

O uso de armas e bombas para gerar um ambiente propício ao golpe no Brasil é um sinal contemporâneo do crescimento da violência associada à intolerância e ao ódio nutrido contra outras pessoas, sob justificativas ideológicas que não se restringem ao cenário político nacional. Na França, um homem de quase 70 anos – portanto, em teoria, maduro o suficiente para não se deixar levar pelo impulso da ira – acusado de matar três imigrantes curdos em Paris, afirmou que sente um “ódio pelos estrangeiros que se
tornou completamente patológico”. Ele atirou indistintamente contra um centro cultural curdo na capital francesa.

A doença do ódio se dissemina silenciosamente, através do rancor pela disputa de espaços sociais e econômicos na vida globalizada. E pode fazer uso das redes sociais para atrair engajamento de outros doentes que desejam transformar a raiva em atos insanos, que rejeitam muitas vezes a própria liberdade que defendem. Os extremismos ganham representatividade política e, ao atingirem o poder, mudam legislações e derrubam conquistas inclusivas. De praxe, defendem a proliferação das armas como um
direito que sobrepõe a outros direitos, sem enxergar na democracia os deveres nomeados pelas constituições dos países. Podem chegar ao poder pelas vias democráticas, para em seguida buscar a corrosão das instituições democráticas, em nome da cegueira do ódio que os move.

A xenofobia é uma das faces dessa patologia social que domina parcela considerável dos habitantes da Terra. A contenção do ódio é necessária, mas não pode ser feita apenas com a violência devolvida aos violentos. Ainda sob os efeitos da data natalina, inspiradora de atos caridosos e palavras de solidariedade, vale recordar os ensinamentos religiosos que trazem o respeito ao ser humano como base moral e ética para todo o curso de uma vida. Infelizmente, muitos radicais se dizem envoltos no mato sagrado da
fé para os ataques que perpetram. São incapazes de enxergar a incoerência da intolerância que praticam de maneira vil e sistemática. E se entregam à doença do ódio como se a uma profissão de fé.

Na política brasileira, o acirramento dos ânimos precisa ser acalmado por líderes que não abracem a mesma patologia. Do Planalto às Câmaras de Vereadores, carecemos de equilíbrio. Os bons exemplos devem retornar, antes que a doença se espalhe.

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