Ele mudou o mundo com uma bola no pé. O futebol de Pelé transformou o esporte em arte, e a arte futebolística se difundiu por todo o planeta, levada pelo artista que se consagrou como um rei. O encanto atravessou gerações e territórios, interrompeu até uma guerra e fez o sonho de crianças a adultos correndo num gramado, na areia, no concreto, driblando, chutando, cabeceando com dedicação e esperança, sob a inspiração de Pelé – o maior dos craques, o soberano inigualável. Se Deus é brasileiro, ele encarnou entre nós como divindade esportiva: Edson Arantes do Nascimento era seu
nome.
“Eu quero ser como Pelé” virou desejo de crianças e adolescentes não apenas no Brasil, mas do mundo inteiro, em todos os continentes. A impressionante influência do rei do futebol chamava a atenção para o seu país de origem, como poucas vezes se viu. Ele se tornou o maior símbolo vivo de nosso país, um embaixador informal, admirado e reverenciado por onde passava. Agora, seu legado é sua história incrível como jogador, o único a ser três vezes campeão em Copas do Mundo. Mas não são os números que
expressam sua importância. O que deixou na memória dos que tiveram o privilégio de vê-lo jogar, e se pode conferir em imagens gravadas de lances vistos tantas vezes, dá à vida o sentido que somente a arte pode buscar. Pelé foi um artista do corpo, um dos maiores da história.
De 1958, quando ganhou a primeira Copa aos 17 anos, até 1970, no tricampeonato, Pelé reinou nos campos. Continuou sagrado no imaginário do futebol muitos anos depois de anunciar a saída definitiva dos gramados, aos 35 anos. Continua até hoje. Morto ontem, aos 82 anos, o eterno menino do Santos vira saudade. E exemplo para os atletas e não atletas. No episódio marcante do milésimo gol oficial da carreira, no Maracanã, o pênalti batido para uma multidão de fãs foi aproveitado para uma mensagem universal de cuidado, cuja atualidade infelizmente não se perde: “Vamos proteger as criancinhas
necessitadas”, disse ele aos repórteres que ansiavam por uma declaração depois do
momento do gol.
“Uma referência de ontem, de hoje, de sempre. Jamais será esquecido”, escreveu em suas redes sociais o craque português Cristiano Ronaldo, expressando a emoção que se alastrou pelo planeta. Vários jogadores lhe renderam homenagens, como o argentino Lionel Messi e o francês Mbape. Para os brasileiros, Pelé também era motivo de orgulho nacional que unificava um povo no respeito que extrapolava fronteiras. “Pelé mudou tudo. Transformou o futebol em arte, em entretenimento. Deu voz aos pobres, aos negros e principalmente: deu visibilidade ao Brasil”, afirmou Neymar, camisa 10 da seleção brasileira.
Para o jornal norte-americano The Washington Post, o atleta do século era “abençoado com as habilidades de improvisação de um mestre do jazz no campo de futebol”. Como a performance de um mestre da música, sua arte era única, em alcance e beleza. Obrigado, Pelé.
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