Toda vez que um temporal desaba no Recife e nas cidades que compõem a Região Metropolitana, a população sofre as consequências da falta de articulação entre os municípios e o governo do Estado. Depois das tragédias anunciadas, como a de ontem, em Olinda, prefeitos e seus secretários se justificam dizendo que o monitoramento é constante – mas são os moradores, segundo os gestores, que não colaboram, permanecendo nos locais de risco apesar dos alertas emitidos. De sua parte, os habitantes dos morros e das áreas que alagam facilmente, com a água invadindo ruas e casas, reclamam da inoperância dos gestores públicos, que não visitam as residências, não realizam obras de prevenção, nem prestam o devido apoio depois que chove, de acordo com os cidadãos.
Entre as queixas que se repetem tanto quanto as tempestades, está o valor insuficiente dos auxílios-moradia, e a indefinição para a resolução de problemas em regiões ocupadas nas fronteiras entre os municípios – com as respectivas prefeituras jogando uma para a outra a responsabilidade, enquanto as pessoas que ali residem, muitas desprovidas de opção, sofrem e morrem pela irresponsabilidade compartilhada. Sem o cumprimento do dever cabido a cada gestor municipal, a situação do descontrole urbano em zonas de risco, bem como o descalabro humanitário em precipitações intensas, só aumentaram nas últimas décadas no Grande Recife e em outros pontos de risco no território pernambucano.
Na semana passada, o governo de Pernambuco deu partida na chamada governança metropolitana, em reunião comandada pela vice-governadora Priscila Krause com os prefeitos da região. O governo Raquel Lyra promete coordenar o esforço conjunto para que estado e municípios sejam capazes de acelerar a resolução de questões comuns, há muito tempo estagnadas, uma vez que a administração isolada, em cada cidade, não basta para cuidar de temas como transporte, saneamento, esgotamento sanitário – e defesa civil, como temos visto todos os anos, na estação das chuvas. A expectativa é que a preparação seja possível até o mês de abril, quando os temporais podem ocorrer em maior volume e por mais tempo.
A integração da Defesa Civil é imprescindível para evitar novas tragédias, como a de ontem. A queda de barreiras é o medo comum de milhares de pernambucanos. Ontem, o deslizamento dobre duas casas deixou um jovem de 19 anos morto, e cinco pessoas feridas, entre as quais, a mãe do garoto que perdeu a vida. Os primeiros socorros vieram dos vizinhos. Os bombeiros chegaram primeiro, e depois veio a Defesa Civil de Olinda. A família do jovem queria sair do local, mas não tinha dinheiro para pagar a mudança.
Para que o saldo de mais de uma centena de mortos pelas chuvas, no ano passado, não se repita, a integração entre os gestores municipais e do Estado – e até do governo federal, que tão pouco deve se eximir – precisa se tornar realidade. O empenho das novas ocupantes do Palácio do Campo das Princesas vai na direção certa, ao liderar a articulação que pode fazer com que todos trabalhem juntos, enfim, pelo interesse coletivo da preservação da vida.
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