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Gasolina prestes a aumentar coloca mais uma vez em pauta a ingerência da política sobre a economia

Todos desejamos preços acessíveis para tudo, inclusive os combustíveis. Mas a não ser que se insira a desoneração na reforma tributária em análise no Congresso, o preço dos combustíveis não pode seguir suscetível ao calendário eleitoral e aos humores políticos

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Publicado em 25/02/2023 às 4:00
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Gasolina no bairro de Afogados por menos de R$ 5 reais - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM

Tem sido recorrente nos últimos anos, no Brasil e em outros países, a temerária interferência da conveniência política em decisões que caberiam, por natureza e objetivo, às equipes econômicas dos governos.

Os brasileiros estão se acostumando a ver, infelizmente, estratégias de campanha eleitoral acopladas a escolhas que deveriam caber exclusivamente às demandas coletivas de longo prazo, desvinculadas de casuísmos explícitos que, mais tarde, quase invariavelmente, cobram o preço alto dos equívocos anunciados.

O exemplo mais recente vem da disputa acirrada pelo Planalto no ano passado, com os preços dos combustíveis congelados na marra pelo então presidente Jair Bolsonaro, de olho no efeito da medida nas urnas. E para não perder popularidade no início do mandato, o presidente Lula vem relutando em desfazer a jogada bolsonarista para as eleições.

Passado o Carnaval, tem-se notícia que a equipe econômica do governo federal prevê o retorno da cobrança dos impostos sobre combustíveis no mês que vem, desatando o nó populista dado por Bolsonaro e mantido por Lula. A Medida Provisória que desonera PIS e Cofins da gasolina e do álcool termina sua prorrogação na próxima terça-feira.

Todos desejamos preços acessíveis para tudo, inclusive os combustíveis. Mas a não ser que se insira a desoneração na reforma tributária em análise no Congresso, o preço dos combustíveis não pode seguir suscetível ao calendário eleitoral e aos humores políticos – assim como outros itens essenciais para a conjuntura econômica, como a energia, que sofreu o mesmo tipo de expediente durante a gestão Dilma Rousseff, com as consequências inclementes sobre o setor e os bolsos dos brasileiros, depois.

O subsídio para os combustíveis – dinheiro que o governo deixa de receber em tributos – é retirado de outras destinações, e segura o preço de maneira artificial. O presidente Lula temeu a reação à extinção do subsídio, no entanto, estendeu o artifício por apenas dois meses. Resta saber se o governo federal seguirá o rumo desejado pela equipe econômica, restaurando a precificação dos combustíveis aos mecanismos do mercado, ou irá prorrogar uma vez mais o legado bolsonarista.

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Gasolina no bairro de Afogados por menos de R$ 5 reais - GUGA MATOS/JC IMAGEM

O impacto do aumento nos postos deve acarretar efeitos inflacionários. Contudo, são efeitos esperados pela dinâmica do mercado, sem amarras ao gosto do governante da vez. A equipe econômica do governo federal ganha crédito e confiança, ao buscar a retirada da decisão política sobre assuntos concernentes à economia. Cabe ao presidente da República referendar o bom senso, após esticar a corda da insensatez.

Os patamares reais dos preços não podem ser escondidos pelo populismo por muito tempo, como já
visto outras vezes. Sem que a economia seja ditada pelas regras econômicas, o risco é enorme para uma conta maior, no futuro – e quem a paga são os cidadãos, a reboque de medidas que sufocam o mercado por pretensões políticas que se mostram, no mínimo, inconsequentes.

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