Hoje é dia de celebração, do povo nas ruas ao redor do simbólico aniversário de 488 anos de Olinda, e 486 do Recife. Festa que deve ser apropriada por quem mora nelas e admira as duas cidades, numa irmanação do orgulho que preenche a pernambucanidade.
Mas a data é igualmente propícia a reflexões acerca do muito de história percorrida, em comparação com a insuficiência da qualidade de vida para os seus habitantes. É como se cinco séculos tivessem passado tão rápido, que não deu tempo de planejar nada, e muito menos de corrigir os equívocos instalados pela desordem, pela falta de gestão adequada ao longo de tanto tempo, em especial do último século para cá, quando ambas experimentaram grandes mudanças de configuração urbana e ocupação do território.
Por trás dos bolos de parabéns e da folia incorporada ao 12 de março, Olinda e Recife padecem de problemas que também se irmanam, num resultado que nada tem a ver com a imagem de alegria acoplada ao frevo e ao maracatu. Dentre os principais problemas, a ampliação da miséria e da pobreza se destaca, expondo uma estrutura precária de acolhimento e restauração social, em que parcela expressiva das populações não têm a quem recorrer para garantir o atendimento a direitos essenciais. Sobretudo na capital, centro político e polo econômico regional, a desarrumação social é aviltante, com milhares de pessoas abandonadas em condições execráveis, como verdadeiros refugos humanos.
Outro desafio é o enfrentamento da questão do déficit de moradias dignas e do excesso de habitações em áreas de risco, como os morros. Com a proximidade da estação chuvosa, comunidades literalmente à beira do abismo olham para o céu com apreensão, sem confiar no chão que sustenta suas casas. O poder público municipal foi omisso e displicente com a situação da moradia para os mais pobres, nas últimas décadas, enquanto as áreas de risco se entupiam de gente, degradando o meio ambiente e se colocando na mira da próxima tragédia anunciada.
Os serviços públicos de saúde, educação, transporte e segurança estão sempre aquém do desejado, merecendo queixas diárias da parte de cidadãos doentes, sem oportunidades, sem transporte adequado e acuados pelo medo de transitar nas ruas, calçadas, parques e praças a qualquer hora do dia. A responsabilidade por essas demandas recai não apenas sobre os gestores municipais que passaram por Olinda e Recife nas últimas décadas, mas também pelos governadores e administrações federais. Há um acúmulo de demandas porque se prolongaram irresponsabilidades.
No horizonte dos 500 anos das cidades que habitam a alma de Pernambuco, é preciso olhar para o futuro em perspectiva mais ampla. O presente precisa mudar o mais brevemente possível, para que as novas gerações sejam capazes de usufruir o melhor amanhã que possamos oferecer. Retomar a visão coletiva que não se lança para a frente como se estivesse perdida, e sim, com os pés firmados no caminho que se pretende trilhar.
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