Deboche à democracia

Ao ameaçar um "banho de sangue" se perder as eleições, e recomendar chá de camomila para o amigo Lula, Nicolás Maduro mostra o ditador que é

Publicado em 25/07/2024 às 0:00

O regime de exceção que reprime e empobrece os venezuelanos há décadas, vem se alimentando da força de uma máquina totalitária que tenta sufocar os opositores. E da condescendência de líderes de países vizinhos que, ocasionalmente, sustentam a versão de uma democracia relativa, que representaria a vontade soberana do povo, sob a pressão econômica exercida por impiedosos imperialistas, especificamente os Estados Unidos. Com o passar dos anos, a população foi ficando sem esperança, cada vez mais acuada e miserável. O resultado é a fuga em massa do país, enquanto o presidente Nicolás Madur o não admite a rotatividade do poder, repetindo o exemplo do comandante Hugo Chávez, seu antecessor. Somente no Brasil, mais de 125 mil refugiados da Venezuela podem ser encontrados em vários estados do país. Há mais de 6 milhões em outros países da América Latina.
Pela primeira vez em muitos anos, apesar das dificuldades impostas pela ditadura de Maduro, a oposição consegue chegar à reta final das eleições com um candidato competitivo, que desponta como favorito para substituir não apenas o ditador, mas também o regime, devolvendo a democracia aos venezuelanos. Acuado por pesquisas eleitorais que sugerem a possibilidade da derrota, Nicolas Maduro ameaçou que um resultado negativo – para ele – pode levar a um “banho de sangue”. A declaração não é estranha a um ditador, mas o presidente brasileiro, Lula, afirmou ter ficado assustado. Um susto no mínimo retardatári o, depois de tantos anos de emigração e sofrimento da população venezuelana, com controle do Judiciário, censura à imprensa e violência contra a oposição, entre outras típicas características de uma ditadura para a qual um banho de sangue não seria nada excepcional.
E com o objetivo de, outra vez, lançar especulações desafiando atores externos, sem qualquer base de realidade, o ditador venezuelano acusou o Brasil e outras nações de fazerem eleições que não são confiáveis, porque não seriam auditáveis. Um absurdo que não pode ficar sem resposta e recorda, em tom e direção, postura semelhante dos ex-presidentes Jair Bolsonaro, aqui, e Donald Trump, nos Estados Unidos. Para se ter em conta que os extremos se abraçam, seja lá em que extremidade estejam. O Tribunal Superior Eleitoral reagiu imediatamente, informando ao detrator que as votações brasileiras s& atilde;o totalmente auditáveis. O silêncio do Planalto à acusação, como de regra a ações e falas de Maduro, foi constrangedor para os brasileiros.
A eleição presidencial na Venezuela acontece no próximo domingo, cercada por expectativas dentro e fora de seus limites territoriais. Uma derrota de Maduro pode não ser facilmente reconhecida, inclusive porque ele detém o controle das instituições que irão contar os votos e divulgar o resultado. Do ponto de vista diplomático, o Brasil e a comunidade internacional devem cobrar transparência e respeito às urnas. Do ponto de vista político, não há mais espaço para sustos nem panos quentes com o ditador venezuelano.

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