Democracia em jogo
Apesar das restrições e manobras autoritárias de Nicolás Maduro, os venezuelanos esperam a mudança do regime na eleição deste domingo
Desde o século passado, o chavismo domina o poder na Venezuela, traduzindo a prerrogativa de governar em um dos períodos mais sombrios para sua população. Mas nem a calamidade social que já fez milhões de pessoas deixarem o país, fugindo da miséria e da violência do Estado, demove o ditador Nicolás Maduro da obstinação em continuar na cadeira presidencial, sucedendo Hugo Chávez na manutenção do regime de exceção. Pela primeira vez nesse longo período, a oposição se apresenta com uma candidatura com possibilidade de vencer nas urnas, mesmo que dezenas de opositores tenham sido impedidos de disputar as eleições. Se a vontade de cada eleitor for, de fato, respeitada, a Venezuela pode deixar o chavismo para trás – e recuperar a capacidade de sonhar e pensar no futuro.
Pesquisas de opinião indicam o favoritismo do oposicionista Edmundo González Urrutia contra a reeleição de Maduro. Para impedir a derrota anunciada, levando em conta a transparência na votação, o governo totalitário deve dificultar o acesso dos eleitores às sessões eleitorais nos maiores centros urbanos, onde a vantagem da oposição é evidente. Além disso, o assédio para os funcionários públicos e os eleitores nas sessões em que o governo espera obter maioria também são ações esperadas pelos observadores da conturbada cena política venezuelana. Ou seja, o domingo el eitoral será longo, penoso e arriscado para a população – e também para a ditadura chavista, caso se confirme a possibilidade concreta de virada, enfim, na ocupação do poder.
O controle absoluto das instituições no país levanta suspeitas dentro e fora da Venezuela, a respeito da legitimidade do resultado, caso a oposição não vença. A permanência de Maduro significará a continuidade do desastre econômico, social e político para o povo venezuelano e suas instituições. O caso da Venezuela demonstra todo o prejuízo que pode ser causado à coletividade, pela insistência de um grupo e um líder no poder, apesar das dificuldades impostas à nação por essa insistência. E não há maior sinal do fracasso histórico do chavismo, do qual o atual pre sidente é protagonista, do que a maciça fuga do povo de seu país, em busca de trabalho, comida, segurança e prosperidade. Em busca de algum horizonte, bloqueado pelo obscurantismo.
A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que mais de 7 milhões de venezuelanos emigraram nos últimos dez anos, devido às condições desfavoráveis para permanecerem na terra natal. A expectativa é que uma considerável parcela possa retornar, uma vez que o regime de exceção tenha um fim, e a perspectiva democrática traga um alento para a Venezuela, depois de tantos anos de sofrimento. Enquanto joga a culpa da situação para o bloqueio econômico, Maduro promove um bloqueio político que afundou o país na pior crise de sua história. A esperança dos venezuelanos, e de todos os que acreditam na força transformadora da democracia – que depende da rotatividade no exercício do poder e da representação popular – é que essa história comece a mudar neste domingo.