VENEZUELA | Notícia

Lula e a farsa das eleições na Venezuela

Nem a Organização das Nações Unidas, nem o presidente Lula reconhecem a democracia de fachada montada por Nicolas Maduro para se manter no poder

Por JC Publicado em 16/08/2024 às 0:00 | Atualizado em 16/08/2024 às 6:51

Nada no histórico do exercício autocrata de poder de Nicolás Maduro na Venezuela poderia indicar honestidade no propósito de realizar eleições livres para a presidência da República, para as quais a oposições concorreria com o governo, como em todo processo democrático que se preze. Mesmo assim, muitos acreditaram que a promessa seria cumprida, e a oposição poderia resgatar a confiança da população na democracia, e num governo mais representativo da vontade coletiva. Para surpresa de poucos, no entanto, o ditador venezuelano não abriu espaço para os críticos do regime, cercou a votação com desinformação, declarou-se vencedor num resultado sem provas, e continuou perseguindo os opositores que questionaram sua vitória, além de se voltar para inimigos externos imaginários para justificar a opacidade da contagem dos votos.
Depois de longo sono condescendente, até o presidente Lula, aliado e amigo do ditador, apesar de condenar ameaças à democracia no Brasil, veio a público declarar que não reconhece a eleição de Maduro. “Ele sabe que está devendo explicações para o mundo”, afirmou o presidente brasileiro, que ainda aguarda as investigações da Justiça eleitoral venezuelana para dar apoio a Maduro com algum verniz de credibilidade – mesmo sabendo que a Justiça de lá é tão submetida ao regime quanto os demais poderes. Ao menos Lula admite que “a situação política do país está ficando deteriorada”, sem dar detalhes do que considera deterioração, e como um processo eleitoral sob suspeita por todos os lados integra esse quadro que contamina o continente. Quanto à sugestão de novas eleições, trata-se de proposta fadada ao deboche dos venezuelanos, que só serve para o ocupante do Palácio do Planalto se pronunciar com alguma voz de cobrança, sem parecer completamente submetido ao obscurantismo chavista.
A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou relatório, esta semana, no qual não apenas aponta a falta de transparência, mas acusa o governo de Maduro de conduzir as eleições repletas de irregularidades. Noutras palavras, a fachada da democracia venezuelana não se sustenta em pé. Ao constatarem lacunas básicas para a confiabilidade dos resultados das urnas, os enviados da ONU à Venezuela denunciam que sequer as leis nacionais foram cumpridas, bem como os prazos dos trâmites da democracia. A não publicação dos resultados por candidatos significa um fato sem precedentes nas eleições democráticas contemporâneas, segundo os membros da equipe das Nações Unidas.
A deteriorada situação da Venezuela inclui, há anos, a repressão política às liberdades individuais e aos direitos de expressão. Mais de mil pessoas foram detidas, e duas dezenas mortas pelo regime de Maduro, entre o final de julho e o início de agosto, após protestos contra os resultados de eleições indignas desse nome. O desafio da comunidade internacional, especialmente do Brasil, é dar respaldo à demanda por democracia da população, em um país quebrado, em crise social e política, que continua escorando a ditadura em votos fabricados como fake news.

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