Vereadores importam
Campanha para as Câmaras Municipais é oportunidade para a valorização do papel dos parlamentares locais para o processo democrático

Dimensão mais próxima da vida comunitária, o poder público municipal é o mais cobrado diretamente pela população, por demandas cotidianas que demoram a ser atendidas – e às vezes nem são, passando sem grandes mudanças pelos ciclos de mandatos a cada quatro anos. As campanhas eleitorais que norteiam a escolha do voto pelos cidadãos, por isso, apresentam-se como oportunidades de esclarecimento da importância da democracia local, especialmente da participação de vereadoras e vereadores no processo político que deve culminar na elaboração e execução de propostas para a coletividade.
A responsabilidade dos parlamentares municipais deve ser lembrada em relação aos bons e aos maus exemplos. Que podem repetir padrões de outras instâncias de poder, nas assembleias legislativas e no Congresso Federal. Como as leis em causas próprias, que desconsideram a realidade do lado de fora, num dos países mais desiguais do planeta. Os reajustes de salários são comuns no Brasil, agravando a distância entre os políticos eleitos pelo povo e o povo que representam. Com salário bruto de R$ 23 mil, os vereadores do Recife ainda têm direito a R$ 16 mil em auxílios como de alimentação e combustível, numa tradição que afronta os eleitores. Se cada trabalhador tivesse direito aos mesmos benefícios, a regra seria, quem sabe, mais aceitável. O problema é que são privilégios escancarados, enquanto a desigualdade não recua.
Para a cientista política Priscila Lapa, a máquina legislativa poderia ser mais enxuta. “O exercício do papel fiscalizador não é claro, o que alimenta a percepção de que o custo é excessivamente alto” do orçamento público com as Câmaras de Vereadores. Para que a percepção seja melhor, o papel dos legisladores precisa ser mais disseminado, e o seu desempenho, mais cobrado pela população, numa prova de consciência de sua importância – pois somente se cobra aquilo percebido como valioso. A campanha eleitoral configura o momento mais do que propício para se debater e ressaltar esse valor – para os próprios candidatos e para o eleitorado.
Segunda capital mais desigual no vasto território brasileiro, com altas taxas de desemprego e de informalidade, o Recife, que carrega história política preciosa para o país, reserva aos futuros parlamentares locais grandes desafios, para a satisfação de demandas antigas que se acumulam. Ao lado do futuro ocupante do cargo de chefe do Executivo, caberá à Câmara de Vereadores colaborar para melhorar a qualidade de vida dos recifenses, além de fiscalizar as ações da Prefeitura nesse sentido. Com tal propósito, quanto maior for a proximidade conquistada por vereadoras e vereadores com os cidadãos, melhor para a imagem do parlamento, e para o trabalho dos parlamentares. Somente assim, com mais transparência e dedicação, a importância do poder legislativo poderá estar à altura da escolha do voto, no cumprimento de seu papel na democracia que requer, a cada eleição, a renovação de princípios que são a base do processo democrático.