Campanha bem-vinda

Aeroporto internacional do Recife é o primeiro no país a receber a campanha do Instituto Banco Vermelho pelo fim dos assassinatos de mulheres

Publicado em 05/10/2024 às 0:00

Os números da violência contra as mulheres em Pernambuco são desafiadores, há vários anos. Uma brutalidade que reúne machismo e covardia, quase sempre envolvendo ex-companheiros que transformam ciúme em sangue. No primeiro semestre deste ano, 37 mulheres foram mortas no estado vítimas de feminicídios, enquanto mais de 26 mil queixas de violência doméstica foram registradas nas delegacias. As estatísticas são altas, mas o silêncio ainda é dominante, pois as autoridades de segurança asseguram que a maioria das vítimas fatais não chega a fazer queixa à polícia, por medo de pôr ainda mais em risco a própria vida, e de familiares. Como os especialistas repetem, no entanto, é preciso quebrar o silêncio, denunciar os maus tratos e alertar os homens para as consequências do crime em curso.
A instalação de um banco vermelho gigante na área de desembarque de passageiros no Aeroporto Internacional do Recife, pelo Instituto Banco Vermelho, em parceria com a operadora do terminal, a Aena, simboliza importante campanha de mobilização social contra a violência à mulher no Brasil. Nada mais oportuno: o país é o quinto no ranking mundial de feminicídios, e Pernambuco ocupa o topo desse vergonhoso ranking no Nordeste. O Instituto Banco Vermelho é uma entidade pernambucana, fundada há quase um ano, fruto da indignação de duas mulheres, Andrea Rodrigues e Paula Limongi, que desejam contribuir para mudar a realidade em nosso estado e em todo o território nacional.
O objetivo da campanha é buscar o feminicídio zero, ou seja, acabar com esse tipo de assassinato. O banco gigante transmite a mensagem de que a violência contra a mulher não pode ser mais tolerada, nem normalizada como fenômeno cultural – a cultura do machismo é não apenas ultrapassada, como criminosa, e merece punição, de acordo com os ditames da lei. Com o fluxo de milhares de pessoas, de variadas origens do país e do mundo, o Aeroporto do Recife é o primeiro a receber a campanha, que deve ser instalada em outros equipamentos de grande movimento de público. O Instituto que a promove está presente em doze estados no Brasil, realizando projetos educativos e de ocupação urbana.
O impacto visual do imenso banco vermelho serve para chamar a atenção de todos que passam para o absurdo que é a violência contra a mulher, que pode culminar em feminicídio. Diante das estatísticas que reforçam a permanência do desafio do combate a esse tipo de violência, a iniciativa poderia ser acolhida e impulsionada pela gestão pública, em todas as esferas de governo. Quanto maior puder ser o alcance da mensagem, espera-se que melhor seja o resultado efetivo de redução da criminalidade e do temor que rondam a população feminina em Pernambuco e no Brasil. Uma taxa de feminicídio zero será uma prova de amadurecimento cultural e social – e essa meta já está muito atrasada, infelizmente.

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