Depois do segundo turno

Encerramento do processo eleitoral retoma a agenda das demandas coletivas nos municípios em todo o País, na definição de prioridades para 2025

Publicado em 28/10/2024 às 0:00

O eleitorado brasileiro fez a sua parte, escolhendo em um ou dois turnos os prefeitos para os próximos quatro anos, bem como os parlamentares municipais. Depois dos vendavais de 2022, com votos marcados pela polarização e a própria democracia ameaçada, até depois do pleito, em 2024 a multipolarização com distribuição do poder pelo centro – e à direita, pelo Centrão – é o destaque. A baixa influência do atual presidente da República, Lula, e do ex-presidente Jair Bolsonaro, abriu o leque da representação política, redistribuindo o equilíbrio partidário, virtualmente expandindo o horizonte de lideranças no cenário nacional.
Eleitos e reeleitos para as prefeituras recebem um sinal de moderação ao cuidar da agenda de governo, em seus novos mandatos. E os vereadores, também, que assumem a missão de cuidar dos assuntos de interesse coletivo, fazendo seu papel na situação ou na oposição. Nos dois casos, os poderes Executivo e Legislativo nas cidades despontam como importantes espaços de exercício democrático, ao ressaltarem a proximidade com a população na configuração política de maior alcance, nos estados e no plano federal. Neste sentido, a distância de dois anos entre as disputas para governador e presidente, em relação às prefeituras, termina se provando essencial para o distensionamento polarizado, em certa dimensão, radicalizado, visto no Brasil nas mais recentes eleições presidenciais.
O clima de tranquilidade anotado pela presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carmen Lúcia, pode ser apontado como a melhor notícia da política em 2024. Nesse clima menos acalorado – de modo geral, com evidentes exceções – o ambiente da disputa pode ser preenchido por mais representantes identificados com a vontade popular de mudança ou continuidade. E daí se extraem possíveis lideranças com potencial para desempenhos além de suas cidades. O pleito municipal, a começar das Câmaras de Vereadores, é o ninho necessário de líderes para a renovação política.
E não faltam demandas urgentes e problemáticas para os prefeitos e parlamentares municipais fazerem jus à liderança que inspiram. É no território das cidades que a desigualdade brasileira se mostra sem disfarce nem ilusionismo. Cada cidade tem suas questões, que não se diferenciam tanto, em natureza, dos principais problemas nacionais. Mas é no debate local que os temas prioritários para os cidadãos precisam ser postos e tratados, desde a saúde, a educação, o transporte e a segurança como direitos elementares não atendidos em plenitude, até a geração de oportunidades que se traduzam em conquistas sociais e econômicas, individual e coletivamente.
Se é na eleição municipal que os eleitores se sentem mais à vontade para escolher a direção do voto, sem o culto quase messiânico de disputas nacionalizadas, por outro lado, os eleitos e as eleitas devem respeitar o compromisso selado pelo voto: dar consequência aos discursos, cumprir o programa de campanha, e ampliar o sentido da política de proximidade, valorizando o processo democrático.

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