Estradas sem investimentos

Pesquisa da CNT mostra mais uma vez a condição precária das rodovias em território brasileiro, tornando os trajetos inseguros e pouco atrativos

Publicado em 22/11/2024 às 0:00
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Todos os anos, a pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) reafirma a constatação da má qualidade das estradas no Brasil. Embora não haja surpresa, é desalentador verificar a continuidade dessa condição precária, tendo em vista que se trata do mais importante modal de transporte, num país onde os trilhos praticamente inexistem, e a malha aérea não tem como atender às demandas de deslocamento de cargas e de pessoas num território de dimensões continentais.
De acordo com a Pesquisa CNT Rodovias 2024, uma em cada quatro estradas no país é classificada como ruim ou péssima, e apenas uma minoria pode ser considerada ótima. Foram analisados quase 112 mil quilômetros de estradas, sendo cerca de 68 mil quilômetros de rodovias federais, e 44 mil, de estaduais. Em quase três décadas de pesquisa, o percentual de estradas avaliadas como ótimas permanece abaixo de 8%, o que expressa a consequência do déficit de investimentos para a melhoria da qualidade do transporte rodoviário no Brasil. Vale dizer que as dezenas de milhares de vítimas fatais em sinistros nas rodovias contam a história mais triste desse descaso generalizado com as estradas.
Com um percentual de 40% na faixa de regular, e 25% na de uma condição boa, as estradas no país, de modo geral, necessitam de manutenção, sinalização e gestão. Como se pode ver em Pernambuco e noutros estados do Nordeste, na maioria das vias, em especial nos eixos de desenvolvimento, a condição de trafegabilidade vai piorando, até que o custo de intervenção fique mais caro, e depois que a precariedade se transforma em insegurança que causa mortes e prejuízos aos usuários – e às economias locais e estaduais, que deixam de ganhar maiores fluxos pela falta de confiança de quem passa ou poderia passar por ali. Para dar uma ideia do que precisa ser aperfeiçoado, 85% das estradas avaliadas são vias simples de mão dupla.
A estimativa da CNT para a recuperação das rodovias no país é alta, representando a conta do atraso acumulado em décadas: pelo menos R$ 100 bilhões, a maior parte do dinheiro para as estradas sob gestão pública, que não recebem manutenção adequada e permanente, como deveriam receber. A conta não para de crescer, pois os mais de 45 mil quilômetros considerados em condição apenas regular, no limite da má qualidade, encontram-se à beira da deterioração, e demandam serviços urgentes. Quanto mais o tempo passa, maior será o valor dos investimentos necessários para deixar as estradas transitáveis e seguras.
Contam-se nos dedos das mãos as estradas vistas como ótimas pela pesquisa: são somente oito, todas no Sudeste, sendo sete em São Paulo e uma no Rio de Janeiro, e todas sob concessão privada. O modelo de gestão das rodovias no Brasil está tão defasado quanto a condição das estradas. Para que os investimentos urgentes sejam feitos sem maiores atrasos de anos e anos, os governos precisam acelerar os programas de concessão. Os números demonstram que não há outro rumo a tomar, para o benefício da população brasileira.

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